Pode-se repetir a cruz de Jesus
A segunda parte do Evangelho (vv. 24-27) se dirige aos discípulos de todos os tempos. Não apenas a estrada de Jesus é difícil, mas a de todos os que querem segui-lo, porque a estrada é a mesma. Jesus podia estar animando os Apóstolos que, logo mais, morreriam de morte violenta como ele. Mas o convite foi dirigido a todos. São Paulo disse na Carta aos Filipenses: “Foi concedido a vocês não somente crer em Cristo, mas também sofrer por ele” (Fl 1,29). Há um sofrimento do qual nenhum discípulo pode escapar: a renúncia aos próprios interesses. A renúncia traz dor. Mas nem toda renúncia é perda.
Vivemos agarrados ao nosso eu, às nossas pequenas e grandes realizações pessoais. Qualquer livro de psicologia moderna nos ensina a satisfazer nossos desejos, a desenvolver nossas capacidades, a vencer sempre, não importando com que meios. Ao começar a vida pública, o demônio tentou levar Jesus a satisfazer o desejo do ter, o desejo do aplauso, o desejo do poder. Seria o caminho normal. É o nosso caminho normal. Mas Jesus o renunciou com firmeza.
Jesus seguiu outro caminho, até contrário a esse. Por isso chocou muitos discípulos medíocres. Os santos tiveram a coragem de desviar-se do caminho ‘normal’ das próprias satisfações e entraram, atrás de Jesus, pelo difícil caminho da renúncia. Foram tidos como loucos. Já São Paulo lembrava “a loucura da cruz” (1Cor 1,18). De São Francisco escreveu o papa Pio XI: “Parece lícito afirmar que jamais houve em quem brilhasse mais viva e mais semelhante a imagem de Jesus Cristo e a forma evangélica de vida do que em Francisco”. Em outras palavras, Francisco foi fidelíssimo discípulo de Jesus. Ora, quando ele começou o duro caminho da conversão, foi considerado louco por todos os que o conheciam. Diz textualmente seu primeiro biógrafo, Tomás de Celano: “Todos os que o conheciam e confrontavam o presente com o passado passaram a insultá-lo, chamando-o de louco e demente, e lhe atiravam pedras e lama nas praças”. Seu sacrifício, porém, significou salvação para muitos. Sua cruz repetiu a cruz de Jesus, por isso, para ele significou ressurreição e vida verdadeira. Hoje, Francisco é um exemplo de quem “perdeu a vida” (v. 25) para encontrá-la “com Cristo, em Deus” (Cl 3,3).
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