É no sofrimento que se descobre o sentido do casamento


POR PROF. FELIPE AQUINO

Minha esposa teve câncer durante seis anos até falecer. Dos quarenta anos de casados, este foi o período mais doloroso de nossa vida, mas também o mais rico espiritualmente, onde vivemos de “puro amor”, nada mais.

No dia 25 de setembro de 2005, dia de meu aniversário, eu voltava de Cachoeira para Lorena; meu celular tocou e eu vi que era ela, a Zila me chamando. Atendi. Com muita calma ela me contou que tinha feito uma mamografia e que foi acusado um tumor cancerígeno em uma de suas mamas. Meu sangue gelou! A gente acha que isso nunca vai acontecer com a gente ou perto de nós. Mas são os desígnios de Deus.

A partir dai começou uma luta que durou seis anos até o seu desfecho. Foi uma longa história de fé, amor, luta, sacrifícios, orações… Ela passou por uma longa cirurgia em São Paulo, onde foram retirados mais de dez nódulos cancerígenos comprometidos pelo câncer. A nossa filha médica, que acompanhou tudo, sabia da gravidade. Quando ela me contou, eu percebi que o caso era grave, mas a gente parece que faz força para não acreditar.

É nessas horas que Deus põe em cheque a nossa fé; muitas vezes eu já tinha repetido em muitas palestras que: “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são seus eleitos, segundo os seus desígnios” (Rom 8,28). E mais: “Vivei sempre contentes, orai sem cessar. Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus” (1 Tes 5,16-18).

Chega um momento que a gente não tem mais que ensinar isso para os outros, mas para nós mesmos, e tem que viver, tem de mostrar a Deus a coerência de nossa fé. Na oração da missa do 7º domingo depois de Pentecostes a gente lê: “Ó Deus, a Providência divina nunca falha!” Mas será que a gente crê nisso? Santa Teresa dizia: “Deus tudo sabe, tudo pode, e me ama.” Quantas vezes eu já tinha lido isso!

É a hora da fé. São Paulo disse que “o Justo vive da fé” (Rom 1, 17); “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6). O profeta Isaías disse que “Os meus caminhos não são os vossos caminhos e o vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor.” (Is 55,8).

A fé faz a gente compreender que quando Deus permite que a dor nos atinja é porque Ele precisa arrancar do jardim de nossa alma a erva daninha que a pode mata-la. E Ele não pode permitir isso, pois tem ciúme de nós, nos ama loucamente, não aceita nos perder. No fundo Ele faz a mesma coisa que eu fazia quando levava meus filhinhos chorando para tomar uma injeção no bumbum; ou quando eu o levava ao hospital para dar pontos doloridos no corte do queixo.

O sofrimento é um mistério, um enigma, entrou na nossa história por causa do pecado. “O salário do pecado é a morte” (Rom 6,23). Mas Jesus, fez aquilo que parecia impossível, “transformou o sofrimento em matéria prima da salvação” quando o abraçou radicalmente na Cruz. Não compreendemos bem as coisas, nem mesmo o que é a felicidade. Mas, se Deus é meu Pai, aconteça o que acontecer, que terei a temer?

Depois da longa cirurgia de quatro horas da Zila, vieram seis longos anos de quimioterapia e radioterapia. Um dia, logo nos primeiros dias do tratamento, ela me disse: “eu não vou morrer, não, fique tranquilo, eu sei que você não sabe viver sem mim”. Algumas vezes eu tive de esconder dela para derramar as lágrimas; nunca deixei que ela visse. Mas ela não abaixava a cabeça não, seus cabelos caíram, mas ela não deixou a vida cair. Continuou o seu trabalho na Editora Cléofas como se nada tivesse acontecido. Passei a amá-la e cuidar dela como nunca tinha feito.

Mas é nessas horas que a gente agradece a Deus por ter uma boa família; os filhos e eu, o genro e as noras, abraçamos esta sua luta como se fosse de cada um de nós; essa é a parte consoladora de tudo. Sou muito grato a Deus por tudo isso. Nos seis anos que ela lutou não teve tréguas; a quimioterapia em São Paulo se repetia a cada quinze dias rotineiramente. O câncer que já tinha alcançado a metástase, passava de um lugar para outro. Do seio migrou para os ossos, dos ossos para o fígado, do fígado para não sei mais onde… até tomar o cérebro e os pulmões; foi o fim.

Mas nós ficávamos impressionados com a sua resistência; dificilmente a quimioterapia, longa e pesada, derrubava a sua imunidade. Poucas vezes precisou de antibióticos para vencer uma infecção ou algo parecido. Nada mudou em sua vida; não teve depressão e nem medo da morte, embora soubesse da gravidade; tocava a vida normalmente como se fosse viver muitos anos.

É claro que ela tinha seus momentos de irritação, coitada, e com todo o direito. Mas nunca a vi culpar a Deus ou se queixar dele. Ao contrário, a vi dar graças a Deus por muitas coisas: os netos que ela tanto amava, os filhos, a nós todos. Não deixou de fazer uma festa sequer como gostava de fazer nos aniversários.

Ela amava a vida, por isso viveu até o seu último dia. Antes de partir para a eternidade, ela ficou internada por cerca de um mês em São Paulo. Nós nos revezamos com ela; sempre dois em sua companhia. Precisou colocar um “stent” na garganta porque o câncer fechou o esôfago e ela não conseguia mais comer; precisou fazer radioterapia no cérebro porque a quimioterapia não chegava lá. Não reclamava de nada.

Este mês foi para mim como que um mês de retiro espiritual. Como Deus é bom! No hospital há uma bela capela com o Santíssimo Sacramento no Sacrário o dia todo; e Missa todos os dias. Eu dividia meu tempo entre o quarto dela e a capela. Pude rezar muito por ela, graças a Deus; é o melhor que a gente pode fazer nestas horas. A fé me sustentou e sustentou a todos nós.

Na noite em que faleceu, 19 de setembro de 2012, uma semana antes de meu aniversário, eu fui à Missa às 18.00 horas com o Mateus. Voltamos para o quarto um pouco antes da 19 horas. E eu fiquei sozinho com ela, porque os filhos estavam na sala de espera com um parente que chegou ao hospital. Sozinho com ela eu rezei mais uma vez o Terço da Misericórdia, da Irmã Santa Faustina. Em seguida, segurando em sua mão eu fiz esta oração:

“Senhor Jesus, o Senhor está comigo aqui agora pela Eucaristia em minha alma; se ela está pronta para ir para o Senhor, se estiver preparada, a leve, pois está sofrendo. Eu a entrego e agradeço por esses quarenta anos que vivemos juntos…”

Tão logo eu terminei esta oração, sua respiração foi diminuindo e ela se foi para Deus. Eram 19.05 horas. Acho que ela não quis que os filhos a vissem partir…

Eu tinha pedido a Nossa Senhora que ela partisse em um dia de uma de suas festas. E que isso fosse para mim um sinal. Pois bem, depois que ela se foi, pude verificar que o dia 19 de setembro é dia de Nossa Senhora de La Salette. Nunca dei tanto valor a nosso casamento!

Deus quis que a sua Missa de sétimo dia fosse exatamente no dia de meu aniversário! Tudo isso pode parecer trágico, mas para mim foi sinal do amor de Deus. Nesta data eu pude agradecer a Deus pelos meus 63 anos e também pelos 40 anos que Ele deu-me ela como um raro presente. A leitura da Missa neste dia era a do Eclesiastes que dizia: “Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir; tempo para chorar, e tempo para rir…” (Ecl 3,1-8). Deus seja louvado!

Prof. Felipe Aquino

Fonte: Cleofas

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Coração de Maria, obra-prima do Espírito Santo, rogai por nós.

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