Apresentado nesta terça-feira o documento que reafirma o valor da monogamia como "união exclusiva e pertencimento mútuo". O cardeal prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé afirmou: a defesa do matrimônio é intrínseca à defesa da dignidade da mulher. A professor De Simone declarou: "O pertencimento recíproco" não pode ser separado da liberdade, do "não pertencimento".
"Nós dois", "Eu-você". Dinâmicas complementares de um amor "abrangente" que não suprime a liberdade, mas a faz florescer plenamente, defendendo a dignidade da mulher, que jamais deve ser negada ou desonrada, "nem mesmo pelo desejo de procriação". Um "elogio da monogamia" que é um "canto" da união matrimonial, "exclusiva, mas longe de ser exclusiva", na qual a "pertença mútua" implica a "não pertença", a plena liberdade do outro.
Esses são alguns dos temas abordados nesta manhã, 25 de novembro, na conferência de imprensa de apresentação da Nota Doutrinária do Dicastério para a Doutrina da Fé, "Una caro", sobre o valor do matrimônio "como união exclusiva e pertença recíproca". O documento foi apresentado na Sala de Imprensa da Santa Sé pelo cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé e pela professora Giuseppina De Simone, docente na Pontifícia Faculdade de Teologia do Sul da Itália - Seção de San Luigi. Também presente na mesa dos oradores monsenhor Armando Matteo, secretário da Seção de Doutrina do mesmo Dicastério.
A unidade dinâmica do matrimônio
"Nós Dois". Da maneira como um casal unidop em matrimônio se relaciona consigo mesmo brota "aquele forte sentimento de reciprocidade que une os cônjuges, aquela aliança entre os dois que compartilham a vida em sua totalidade". Essa foi a declaração do cardeal Fernández, que, ao apresentar a Nota Doutrinária, enfatizou que o documento não se detém nos crescentes "desafios da poligamia", mas aprofunda a propriedade essencial da unidade, sancionada pelo Código de Direito Canônico. Um vínculo, aquele matrimonial, que nunca se apresenta estático, mas dinâmico em suas "diferentes expressões". A esse respeito, o purpurado argentino especificou que vários bispos africanos também haviam solicitado ao Dicastério uma documentação sobre o valor da monogamia.
Amor totalizante por "escolher-se repetidamente"
O primeiro aspecto em que o cardeal Prefeito se concentrou foi a natureza "totalizante" da união matrimonial. A expressão bíblica "uma só carne" (una caro) não limita a liberdade pessoal, mas antes a leva ao cumprimento. Daí a ideia de que tal união só pode ocorrer entre duas pessoas, "caso contrário, não se compartilharia tudo, mas apenas uma parte".
Ele então passou à análise do matrimônio realizada por teólogos, Pontífices e poetas. Dietrich von Hildebrand, por exemplo, distinguia duas formas complementares de união: a do "nós", em que "o outro está comigo", motivado "pelas coisas comuns que nos unem"; e aquela do "eu-tu", na qual os dois cônjuges se entregam um ao outro, de modo que "a outra pessoa age inteiramente como um sujeito, nunca como um mero objeto".
"Retornar à escolha recíproca repetidas vezes" foi por sua vez uma nuance do matrimônio enfatizada pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica Amoris Laetitia. É uma ideia que, explicou Fernández, está ligada à caridade conjugal, àquele abandono de si que Søren Kierkegaard acreditava ser possível apenas assumindo o risco e a imprevisibilidade do amor. "É desajeitado - escrevia o filósofo dinamarquês - querer amar com uma parte da alma, mas não na sua totalidade, reduzir o próprio amor a um momento e, no entanto, tirar tudo do outro". O amor totalizante também encontra expressão na poesia, como no famoso verso de Eugenio Montale: "Desci, oferecendo-te o meu braço, pelo menos um milhão de degraus".
As dignidades individuais no casal
O segundo ponto abordado pelo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé dizia respeito à "dignidade inalienável" das duas pessoas unidas pelo matrimônio. "O meu amado é meu, e eu sou dele. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu", recita o Cântico dos Cânticos, recordando que os cônjuges "constituem um casal, iguais na sua dignidade fundamental".
Defender a monogamia significa também proteger a dignidade da mulher, como ensinava Leão XIII, para quem tal valor não pode ser negado ou desonrado, mesmo no contexto da procriação. "A unidade do matrimônio torna-se uma escolha livre da mulher, que tem o direito de exigir reciprocidade exclusiva." Isso não pode acontecer, observou o cardeal Fernández, "se a outra pessoa se tornar meramente um objeto usado para satisfazer os próprios desejos." O risco — exposto com ainda maior urgência no Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, recordado pelo purpurado — é o de alimentar "doenças de uma posse indevida do outro": manipulação, ciúme, assédio, infidelidade. O casamento não pode se tornar uma válvula de escape para as frustrações, transformando-se em "dominação do outro". Das formas de "desejo doentio" podem, de fato, originam-se violências explícitas ou sutis, opressão, pressão psicológica, controle e sufocamento, frequentemente acompanhados de infidelidade. Existe - concluiu o cardeal prefeito - uma dimensão pessoal que "transcende todas as outras" e permanece acessível apenas a Deus. Uma verdade que o poeta indiano Rabindranath Tagore expressou assim: "Este coração está tão próximo de você quanto a sua própria vida, mas você não pode conhecê-lo completamente."
A pertença recíproca implica liberdade
Pronunciou-se então a professora De Simone, que se concentrou no título do texto, particularmente na escolha da palavra "elogio" em relação à monogamia. "Cantar no júbilo", como escrevia Santo Agostinho, significa "compreender e não ser capaz de explicar em palavras o que se canta com o coração". Uma Nota doutrinal que não se perde em "dimensões conceituais", mas interpreta a vida em sua "direção de significado". Para "pessoas que vivenciam a vida", resumiu a professora. Um texto, acrescentou ela, que "canta" a beleza de um amor que é "exclusivo, mas longe de ser exclusivo", e uma visão "escrita em tantas histórias comuns, de pessoas comuns". "Tenham a coragem de sua humanidade. Tenham a coragem de amar, até o fim", é o conceito subjacente que a professora De Simone identificou nas entrelinhas da Nota. “O verdadeiro amor reconhece a dimensão sagrada do outro e exige um cuidado delicado com a sua liberdade”, continuou a professora, ecoando a declaração do cardeal Fernández, instando à confiança recíproca entre os cônjuges: “a pertença recíproca” não pode, de fato, prescindir da “não-pertença”.
Perguntas da imprensa
Respondendo às perguntas dos jornalistas presentes, o cardeal esclareceu que o texto estava pronto há meses, mas que a sua publicação tinha sido adiada em antecipação à primeira Exortação Apostólica do Papa Leão XIV, Dilexi te. A Nota, além disso, não trata do tema do uso de contraceptivos.
Retornando à questão da poligamia e sua disseminação no continente africano, o cardeal citou o caso da Guiné Equatorial, onde a prática ainda é difundida em “pequenos vilarejos”. Ele observou que alguns presbíteros, ao tentarem formar comunidades com fiéis que vivem em casamentos monogâmicos, muitas vezes se encontram isolados: “São situações difíceis”, admitiu. Este é, de fato, um processo que deve ocorrer "gradualmente", como reconhecem os próprios bispos locais, também devido a práticas que, no passado, levaram homens com várias esposas a fazer escolhas "muito violentas", permanecendo "com apenas uma mulher" e "expulsando" as outras "para o deserto", deixando-as morrer "de fome e calor". A Nota, concluiu o cardeal, faz uma clara referência ao casamento, mas os valores a ele associados estendem-se a outras formas de união, incluindo também os solteiros e os sacerdotes.
25 novembro 2025, 13:30
Fonte: Vatican News
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