O inferno da solidão
6° Domingo do Tempo Comum - Ano B
Evangelho de Marcos 1,40-45
Naquele tempo, 40um leproso chegou perto de Jesus e, de joelhos, pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. 41Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado!” 42No mesmo instante, a lepra desapareceu e ele ficou curado. 43Então Jesus o mandou logo embora, 44falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” 45Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
REFLEXÃO:
Cheio de confiança no poder divino, um leproso rompe a barreira do preconceito religioso e social e se aproxima de Jesus. Considerados impuros, os leprosos deviam isolar-se, e quem tocasse em sua pele se tornava impuro. Eis por que Jesus fica irado. Sua ira é contra a instituição que exclui o leproso. Incapaz de curá-lo, marginaliza-o. Jesus, ao invés, cura-o, restituindo-lhe a dignidade de homem e cidadão, com iguais direitos na sociedade. Jesus, “ameaçando-o severamente”, pede-lhe que não conte o fato a ninguém. Um forte apelo, a fim de evitar a interferência das lideranças religiosas. Defensoras da lei do puro/impuro, não deixariam circular livremente quem se tornara impuro tocando num leproso! Jesus vai para lugar deserto e aí continua a oferecer liberdade e vida para todos.
(Dia a dia com o Evangelho 2024)[1]
Oração do Dia
Ó Deus, que prometeis permanecer nos corações retos e sinceros, concedei-nos por vossa graça viver de tal maneira que possais habitar em nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
O inferno da solidão
É a primeira vez que Marcos fala de lepra no seu Evangelho. A primeira leitura de hoje (Lv 13,1-2.45-46) ilustra a sorte do leproso: exclusão da comunidade (não podia permanecer em casa ou perto de casa ou dentro dos muros da cidade ou à beira dos caminhos). Talvez o estar condenado ao inferno da solidão fosse pior que a própria lepra. Mas havia coisa ainda pior: a mentalidade unia, tão estreita e interdependentemente, corpo e alma que uma doença do corpo, necessariamente, seria consequência, ou ao menos reflexo, de uma fraqueza moral. E como a lepra era considerada a pior das doenças (porque desfazia a carne do corpo, tornando-se, praticamente, sinônimo de morte), o leproso não só era condenado ao deserto da solidão imposta pela sociedade, mas também era considerado para sempre maldito por Deus. Ou seja, morto para a sociedade (e seu nome era retirado da lista dos habitantes da vila) e morto, sem esperança, para Deus.
Curar um leproso significava arrancá-lo da morte social e da morte religiosa, ou seja, significava ressuscitá-lo dos mortos. E como só Deus é capaz de ressuscitar um morto, curar um leproso entra na lista do poder divino, das obras que só Deus pode fazer.
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.[2]
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