Deus se volta para nós, voltemos para Ele!
A Boa Notícia começa com um grande chamado à conversão (Mc 1,1-15; cf. Mt 3,1-17; Lc 3,1-22). Em que sentido a conversão é “boa notícia”? Conversão, na Bíblia, significa volta (como se faz uma conversão com o carro na estrada). Na 1ª leitura ressoa um magnífico texto do Segundo Isaías. O rei Ciro, depois de conquistar Babilônia, mandou os judeus que aí viviam exilados de volta para Jerusalém (em 538 a.C). O profeta imagina Deus reconduzindo essa gente a Sião. Precede-lhe um mensageiro que proclama: “Preparai no deserto uma estrada” (Is 40,3) – como para a entrada gloriosa (a “parusia”) do Grande Rei. Mas é um rei diferente, cheio de ternura: “Como um pastor, ele conduz seu rebanho; seu braço reúne os cordeiros, ele os carrega no colo, toca com cuidado as ovelhas prenhes”(v. 11). Essa era a boa notícia que Jerusalém, qual mensageira, devia anunciar ao mundo (v.9).
Conversão não é coisa trágica. Deus já voltou seu coração para nós; resta-nos voltar o nosso para ele. Ao proclamar o batismo de conversão (evangelho), João Batista pressentia a proximidade de uma “entrada gloriosa” de Deus. Como símbolo da “volta” usava a água do rio Jordão, que lembrava a travessia do povo de Israel pelo Mar Vermelho e pelo rio Jordão, rumo à terra prometida. Reforçava sua mensagem repetindo o texto de Is 40,3: “Preparai uma estrada…”. Vestia-se com um rude manto feito de pêlos de camelo e alimentava-se com a comida do deserto – mel silvestre e gafanhotos -, como o profeta Elias, o grande profeta da conversão, cuja volta se esperava (cf. Ml 3,1.23-24 e Eclo 48,10). Mas João ainda não é aquele que deve vir, apenas prepara a chegada deste, o “mais forte”, que virá “batizar com o Espírito Santo” (cf. a efusão do Espírito de Deus no tempo do Fim: Jl 3,1-2; Ez 36,27 etc).
Devemos sempre viver à espera dessa “entrada gloriosa” de Deus. Jesus veio e inaugurou o reinado de Deus, mas deixou a nós a tarefa de materializa-lo na História. Entretanto, Deus já coroou com a glória a vida dele e a obra que ele realizou: reunir as ovelhas como o pastor descrito por Isaías.
No tempo dos primeiros cristãos, muitos imaginavam que Jesus ia voltar em breve com a glória do céu, para arrematar essa obra iniciada. Depois de alguns decênios, porém, começaram a se cansar e a viver sem a perspectiva da chegada de Deus, caindo nos mesmos abusos que vemos hoje em torno de nós. Por isso foi necessário que a voz da Igreja lembrasse a voz dos profetas: Deus pode tardar, mas não desiste de seu projeto. Mil anos são para ele como um dia (2Pd 3,8), mas seu sonho, “um novo céu, uma nova terra, onde habitará a justiça”, fica de pé (2ª leitura).
Não vivamos como os que não têm esperança. Não desprezemos o fato de Deus estar voltado para nós. Voltemos sempre a ele.
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