JEFFREY BRUNO
Julio De la Vega Hazas - publicado em 10/11/20
Em nossos momentos de diálogo com Deus, nós agradecemos, louvamos, mas também abrimos nosso coração ao Senhor, apresentando-lhe nossos pedidos. Mas por que temos essa sensação de que nem sempre Ele nos escuta e nos atende?
Deus sempre escuta as nossas orações, mas nem sempre faz o que lhe pedimos. O que Deus permite é sempre para o nosso bem, ainda que às vezes seja difícil compreender isso.
De fato, essa é uma das grandes perguntas que surgem sobre a fé. A ela respondeu Santo Agostinho, um dos grandes pilares do pensamento cristão.
Comentando a 1ª Carta de São João, Santo Agostinho se encontra com a frase “tudo o que lhe pedirmos, receberemos dele porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável a seus olhos” (1 Jo 3, 22). No entanto, ele menciona São Paulo, quando este pede a Deus que o livre desse “espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear”, mas explicitamente isso não lhe é concedido (cf. 2 Cor 12, 7-9).
Aqui se apresentam juntas pergunta e resposta: “Mas por quê? Porque isso não lhe convinha. Por isso, foi escutado quanto à salvação aquele que não foi escutado em sua vontade. (…) Discernamos as atenções de Deus. Encontramos aqueles que não são escutados em sua vontade, mas o são em sua salvação, e também aqueles que são escutados em sua vontade e não quanto à sua salvação”. O exemplo que ele dá é muito significativo: o livro de Jó. Aqui, o que se lê em um princípio é que quem é atendido em seus pedidos não é Jó, o homem bom, mas o diabo, o mau por excelência.
O sofrimento do justo
Isso entra no campo de uma questão ainda mais geral: a do sofrimento do justo. No Antigo Testamento, valoriza-se a progressividade da Revelação. No começo, a recompensa pela obediência a Deus é temporal: a terra prometida, que “mana leite e mel”, e a consequente paz e prosperidade. O livro de Jó apresenta o sofrimento do justo neste contexto.
Não há dúvida de que Jó é bom, mas sofre muito. Por quê? A única resposta que se dá é de que os desígnios de Deus são inescrutáveis: Ele sabe mais do que nós. Certamente, é verdade e, em crenças como o Islã, esta é a resposta previsível. Mas, na história da salvação, isso não fica assim. Em um dos últimos relatos do Antigo Testamento, o martírio dos 7 irmãos macabeus junto à sua mãe (2 Mac 7), continua-se falando do castigo pelos pecados, mas a perspectiva já é a eternidade.
O último irmão a morrer diz a Antíoco: “Quanto a nós, é por causa de nossos pecados que sofremos e se, para nos punir e corrigir, o Deus vivo e Senhor nosso se irou por pouco tempo contra nós, ele há de se reconciliar de novo com seus servos”. Sua mãe havia lhe pedido: “Sê digno de teus irmãos e aceita a morte, para que no dia da misericórdia eu te encontre no meio deles”.
Jesus Cristo: a reposta
A resposta definitiva chega com o Novo Testamento e tem nome próprio: Jesus Cristo.
Jesus Cristo é o Justo por excelência, que nos deixa o grande exemplo das orações aparentemente não escutadas, quando pede, no Horto das Oliveiras, que Deus afaste dele aquele cálice (cf. Lc 22, 42) – que era nada menos que a cruz. A cruz, que parece humanamente como um fracasso, é instrumento para a redenção e para a glorificação de Cristo – e a nossa.
O cristão é filho e, como tal, acompanha o Filho na cruz, para acompanhá-lo também como triunfador na glória. Este é o nosso bem definitivo, ainda que neste mundo ele seja, às vezes, nosso doloroso bem.
Em muitas ocasiões, quando entramos em uma igreja e ouvimos o cântico cuja letra (tirada de São Paulo) diz “se com Ele morremos, com Ele reinaremos”, possivelmente não captamos, na hora, seu significado profundo. Mas estas palavras indicam o sentido da nossa existência, sua finalidade, e aquilo com relação ao qual Deus sempre nos escuta.
Agora, a oração de Jesus serviu e serve para que possamos seguir o caminho que Ele seguiu e chegar ao mesmo final.
Fonte: Aleteia
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