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Edifa - publicado em 17/11/20
Alguns casais rezam juntos de forma natural, enquanto outros têm dificuldade em encontrar a equação certa para chegar à oração no relacionamento. O que acontece se, apesar de todos os esforços, os cônjuges ainda não conseguirem rezar juntos?
Toda verdadeira oração introduzida na comunhão dos santos, na comunhão das pessoas divinas dentro da Trindade, nos transforma em marido ou mulher, irmão ou irmã, pai ou filho, muito antes que o sejamos por vínculos de sangue. Essa comunhão pode refletir-se visivelmente na vida da família, por exemplo quando todos vão juntos à missa dominical, ou quando cada um busca a sua interioridade rezando em seu quarto. Portanto, podemos ficar tranquilos: ora-se “em casal” quando temos uma oração verdadeira em nosso coração, mesmo que não estejamos rezando ao mesmo tempo ou no mesmo lugar.
“O amor é uma coisa grande, com a condição de que volte às suas origens”
A oração é por natureza uma ação solitária. Dialogamos em pares, não em grupos de três. Jesus nos diz: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará.” (Mt 6, 6). O matrimônio, por mais sagrado que seja, não foge a esta regra, a ponto de que a única razão pela qual São Paulo permite que a vida conjugal seja suspensa é precisamente para “dedicar tempo à oração” (1 Cor 7, 5). E isso delimita para cada um, em seu interior, um “jardim secreto” no qual só Deus pode entrar.
“Faz parte daquilo que é espiritual não expor suas riquezas aos homens, mas escondê-las em sua cela e em sua consciência, para que sempre carregue uma inscrição na porta desta consciência: “Meu segredo é para mim, meu segredo é para mim!””(Guilherme de Saint-Thierry, Carta aos Irmãos de Mont-Dieu). Podemos dizer então que este monge desprezava o casamento? De modo nenhum, na verdade ele nos indica o lugar certo ao nos convidar a unir ao amor dos irmãos – e em particular o amor conjugal – à fonte de todo amor, isto é, ao coração do Pai: “O amor é uma coisa grande, mas à condição que se volte ao seu princípio, à sua origem, à sua fonte, para nela se apoiar e receber dessa fonte o que é necessário para fluir continuamente.” (São Bernardo, Sermão 83, Cântico dos Cânticos).
Os cônjuges devem fazer uma oração em casal, mesmo que cada um também reze individualmente
Para que os esposos possam experimentar a comunhão em seu casamento, Cristo é aquele que os dá um ao outro; e, para isso, “é necessário que a alma dos cônjuges, as almas do casal, se desprendam de si mesmas. Do contrário, não há amor possível, mas egoísmo buscado no outro. No extremo do amor está o amor de Deus, um dom total e recíproco de si; mas para o homem, Deus é o Outro, o outro que acabará por se revelar, no amor, o Ser de nosso ser” (Yves Raguin, Caminhos de Contemplação).
Portanto, compreendemos que não há caminho mais curto para um casal do que o próprio Cristo. E o que os cônjuges podem ajudar-se nesta jornada, encontrando momentos e lugares que permitam um ao outro de ficar inteiramente com Cristo. Longe de todo ciúme, é neste lugar que se receberão um ao outro daquele que é “o ser do nosso ser”, é lá que se receberão na raiz de quem são. Talvez é possível viver momentos assim juntos, como em certos mosteiros onde a oração é vivida em comunidade e não em celas. Mas é em todo o caso no silêncio e no invisível da comunhão dos santos que eles vão experimentar a graça de serem unido por Deus no casamento.
Padre Max Huot de Longchamp
Fonte: Aleteia
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