Jesus jejuou durante 40 dias e 40 noites por quê, se Ele não precisava disso?

James Tissot | Public Domain

Arquidiocese de São Paulo | Mar 04, 2020

O Filho de Deus jamais cometeu pecado algum! Sujeitou-se a isso para nos mostrar a necessidade da penitência e para se apresentar como “Novo Adão”.

O pe. João Bechara, da arquidiocese de São Paulo, compartilhou no jornal arquidiocesano O São Paulo a seguinte reflexão sobre a liturgia do primeiro domingo de março e da Quaresma deste ano:

Jesus não precisava se submeter à penitência e à tentação. O Filho de Deus jamais cometeu pecado algum! Sujeitou-se a isso para nos mostrar a necessidade da penitência e para se apresentar como “Novo Adão”.

Adão fora seduzido pela serpente e desobedeceu a Deus no Éden. Na aridez do deserto, Jesus resistiu à tentação do demônio. Esta continuaria na Cruz, ápice de sua penitência. Ali, com a mesma instigação – “Se és Filho de Deus…” (Mt 27,40) –, Ele seria novamente posto à prova. Mas, também no Calvário, Cristo obedeceu à vontade do Pai. Assim, “a falta de um só acarretou a condenação de todos; mas o ato de justiça de um só trouxe a justificação” (Rm 5,18).

Solidários à penitência de Cristo, praticaremos atos externos de mortificação na Quaresma, para exercitar a virtude da penitência e a obediência a Deus. A penitência consiste na atitude interna de reconhecimento dos pecados, de sincera dor por causa deles e de firme propósito de não pecar mais. Somente pela penitência interna se obtém os frutos do sacramento da Confissão e a Salvação que Jesus nos alcançou.

Pelas próprias forças, somos incapazes de cancelar os pecados. Todo perdão vem pelo Sangue de Cristo derramado na Cruz. Este, por sua vez, nos é aplicado por meio dos sacramentos: o Batismo e a Confissão. Afinal, todo o perdão vem da Morte de Cristo e é distribuído pela Igreja, à qual Ele disse: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,22s). Porém, a misericórdia de Deus é reservada àqueles que se arrependem. E, para haver verdadeiro arrependimento, não é suficiente a fé; é necessária a virtude da penitência, decorrência do amor sincero a Deus.

Além disso, uma vez que recebemos o perdão na Confissão, mesmo que estejamos então libertos das penas do inferno, permanecem ainda feridas na alma. Estas são curadas pela penitência. São João Crisóstomo fazia a seguinte comparação: “Não basta arrancar a flecha do corpo; é necessário curar a ferida aberta pela flecha”. A penitência é terapêutica para a alma e para as penas temporais decorrentes de pecados já perdoados.

As obras da Quaresma têm a finalidade de promover essa cura interior. A oração sana os pecados cometidos contra Deus; a esmola, aqueles feitos contra o próximo; o jejum repara o mal que nossas faltas causam a nós mesmos. Como um remédio, elas arrefecem a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. E podemos inclusive orar, jejuar e dar esmolas pedindo a conversão, santificação e cura de outras pessoas.

Portanto, além do jejum de Quarta-feira de Cinzas e da Sexta-feira Santa, bem como da abstinência de carne às sextas-feiras, pensemos em quais outras penitência ofereceremos a Deus na Quaresma! Qual ajuda material prestaremos aos pobres e pessoas conhecidas? Quais orações faremos a mais? Missa diária? Via-Sacra? Rosário diário?… Sejamos generosos!

Fonte: Aleteia

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