Papa: mártires cristãos testemunham que a injustiça não tem a última palavra


O Papa Francisco recorda num tuíte os mártires de todos os tempos, testemunhas da Ressurreição de Jesus. As palavras dos últimos três Papas diante dos atentados terroristas

Sergio Centofanti - Cidade do Vaticano

Esta quarta-feira (24/04) na Oitava da Páscoa, o Papa Francisco lançou um novo tuíte em sua conta @Pontifex em nove línguas: “Os mártires de todos os tempos, com a sua fidelidade a Cristo, mostram-nos que a injustiça não tem a última palavra: no Senhor ressuscitado podemos continuar a ter esperança”.

Francisco: cristãos mais perseguidos hoje do que nos primeiros séculos

O Papa Francisco elevou muitíssimas vezes sua voz contra as perseguições cristãs: “Pode parecer difícil acreditar – afirmou numa recente mensagem vídeo –, mas hoje há mais mártires do que nos primeiros séculos”.

Segundo numerosas pesquisas internacionais, os cristãos são hoje o grupo mais perseguido no mundo, com mais de 200 milhões de pessoas submetidas a discriminações, violações dos direitos humanos, agressões e atentados. Muitos perdem a vida por permanecer fiéis a Jesus.

Cristãos assassinados unicamente porque cristãos

Francisco usou palavras fortes: “Pensamos em nossos irmãos degolados na praia da Líbia; pensamos naquele garoto queimado vivo pelos companheiros porque cristão; pensamos naqueles migrantes que em alto-mar foram lançados ao mar pelos outros, porque cristãos; pensamos (…) naqueles etíopes, assassinados porque cristãos… e tantos outros. E tantos outros que não sabemos, que sofrem nos cárceres, porque cristãos… Hoje a Igreja é Igreja de mártires: eles sofrem, dão a vida e nós recebemos a bênção de Deus pelo testemunho deles” (Missa na Santa Marta, 21 de abril de 2015).

Silêncio cúmplice das potências

O Papa repetiu que “não há cristianismo sem perseguição”. Convidou a recordar a última das bem-aventuranças: “Quando vos levarão às sinagogas, vos perseguirão, vos insultarão: este é o destino do cristão”. E denunciou: “Hoje, diante deste fato que ocorre no mundo, com o silêncio cúmplice de muitas potências que poderiam impedi-lo, encontramo-nos diante deste destino cristão: trilhar pelo mesmo caminho de Jesus” (Missa na Santa Marta, 7 de setembro de 2015).

Dois tipos de perseguição: violenta e travestida de cultura

O Papa fala de dois tipos de perseguição contra os cristãos: a perseguição explícita, violenta, brutal; e a perseguição “educada, travestida de cultura, modernidade e progresso”. É “a perseguição que tira a liberdade do homem, inclusive a da objeção de consciência! Deus nos fez livres, mas esta perseguição tira a tua liberdade! E se tu não fazes isso, tu serás punido: perderás o trabalho e muitas outras coisas ou serás colocado de lado”. “Esta é a perseguição do mundo” – ressalta Francisco – “quando as potências querem impor atitudes, leis contra a dignidade dos filhos de Deus, os perseguem e vão contra o Deus criador: é a grande apostasia” (Missa na Santa Marta, 12 de abril de 2016).

Palavras dos Papas sobre atentados de matriz islâmica

Diante da eclosão do fenômeno dos atentados, em particular de matriz islâmica, O Papa Francisco seguiu a linha de seus predecessores, São João Paulo e II e Bento XVI, que em sua condenação aos ataques terroristas pronunciaram palavras duríssimas contra a instrumentalização da religião e do uso da violência em nome de Deus, mas sem jamais dar uma conotação religiosa àqueles atos.

Em primeiro lugar, porque a grande maioria dos muçulmanos ou de seguidores de outras confissões religiosas não se reconhecem naquelas violências, ademais, para não dar lugar a instrumentalizações e porque continuar dialogando é decisivo para a convivência e a paz no mundo.

João Paulo II: diálogo com os muçulmanos mais do que nunca necessário

João Paulo II já o tinha dito encontrando os jovens muçulmanos no estádio de Casablanca em 19 de agosto de 1985: “O diálogo entre cristãos e muçulmanos hoje é mais do que nunca necessário. Ele deriva da nossa fé em Deus e supõe que sabemos reconhecer Deus com a fé e testemunhá-lo com a palavra e com a ação num mundo cada vez mais secularizado e, por vezes, também ateu”.

Atentados de 11 de setembro

“Um dia após os atentados de 11 de setembro de 2001, o Papa Wojtyla expressava “profunda dor” e inquietação diante de um “horror tão inqualificável”. “Ontem – dissera – foi um dia obscuro na história da humanidade, uma ofensa terrível contra a dignidade do homem (...) Como podem verificar-se episódios de crueldade tão selvagem? O coração do homem é um abismo de que, às vezes, emergem desígnios de ferocidade inaudita, capazes de abalar de repente a vida serena e operosa de um povo. Todavia, nestes momentos em que todo o comentário parece ser inoportuno, a fé vem ao nosso encontro. A palavra de Cristo é a única que pode dar uma resposta às interrogações que se agitam na nossa alma. Mesmo quando a força das trevas parece prevalecer, o crente sabe que o mal e a morte não são a última palavra. A esperança cristã fundamenta-se nisto; e é aí que se alimenta, neste momento, a nossa confiança orante.”

Não permitir que as violências exasperem as divisões

Doze dias após os atentados, em 23 de setembro, o Papa lançou no Angelus um apelo durante sua visita ao Cazaquistão, país de maioria muçulmana, a fim de que os seguidores de todas as religiões cooperem para edificar um mundo sem violência: “Não podemos permitir que o que aconteceu leve a uma exasperação das divisões. A religião jamais deve ser utilizada como motivo de conflito”.

Portanto, exortara “tanto cristãos quanto muçulmanos a rezar intensamente ao Deus único Todo-Poderoso, que nos criou a todos, a fim de que o bem fundamental da paz possa reinar no mundo. Que as pessoas de todos os lugares, reforçadas pela sabedoria divina, trabalhem por uma civilização do amor, na qual não haja espaço para o ódio, a discriminação e a violência”.

Bento XVI: diálogo com os muçulmanos é uma necessidade vital

Do mesmo modo, também nos sucessivos atentados perpetrados por extremistas muçulmanos, João Paulo II jamais cita a palavra Islã. O mesmo foi feito por Bento XVI. Em 7 de julho de 2005, uma série de atentados suicidas perpetrados por extremistas islâmicos abalou Londres, na Inglaterra, causando 56 mortos.

No dia 10 de julho no Angelus,  Bento XVI manifestou sua “profunda dor” pelos atentados terroristas e acrescentou: “Rezemos pelas pessoas que morreram, por aquelas que ficaram feridas e por seus entes queridos. Mas rezemos também pelos autores dos atentados: o Senhor toque seus corações. Digo àqueles que fomentam sentimentos de ódio e aos que realizam ações terroristas tão abomináveis: Deus ama a vida, que criou, não a morte. Parem, em nome de Deus!”

Em 12 de setembro de 2006, Bento XVI pronunciou a célebre lectio magistralis na Universidade de Regensburg, na Alemanha, citando as palavras do imperador bizantino Manuel II Paleólogo, num diálogo com um persa no final de 1400, que fala, entre outros, da violência no Islã. Uma passagem imediatamente instrumentalizada que provocou manifestações e incidentes no mundo islâmico. Esquecendo que o texto de Ratzinger era sobretudo uma denúncia da marginalização da fé religiosa na sociedade ocidental.

Para esclarecer publicamente seu pensamento, em 25 de setembro de 2006 Bento XVI encontrou em Castel Gandolfo os embaixadores dos países de maioria islâmica, reiterando que “a Igreja olha com estima os muçulmanos que adoram o Deus único, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens. Eles buscam submeter-se com todo o coração inclusive aos decretos ocultos de Deus, como se submeteu Abraão, cujo nome a fé Islâmica com agrado pronuncia”.

Bento XVI reafirma com força que “o diálogo inter-religioso e intercultural entre cristãos e muçulmanos não pode reduzir-se a uma escolha do momento. Trata-se efetivamente de uma necessidade vital, da qual o nosso futuro depende em grande parte”.

Fonte: Vatican News

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