“Jó estava com problemas: havia perdido tudo”. A partir desta leitura, que apresenta Jó despojado de todos os seus bens, inclusive seus filhos, o Papa desenvolveu a homilia. “Jó se sente perdido, mas não maldiz o Senhor”.
Todos, cedo ou tarde, vivemos uma grande desolação espiritual
Jó vive uma grande ‘desolação espiritual’ e desafoga com Deus. É o desabafo de ‘um filho diante de seu pai’. O mesmo o faz o profeta Jeremias, que desabafa com o Senhor, mas sem blasfemar:
“A desolação espiritual é uma coisa que acontece com todos nós: pode ser mais forte ou mais fraca... mas é uma condição da alma obscura, sem esperança, desconfiada, sem vontade de viver, que não vê a luz no fim do túnel, que tem agitação no coração e nas ideias... A desolação espiritual nos faz sentir como se nossa alma fosse ‘achatada’: quando não consegue, não quer viver: ‘A morte é melhor!’ desabafa Jó. Melhor morrer do que viver assim'. E nós devemos entender quando nosso espírito está neste estado de tristeza geral, quando ficamos quase sem respiro. Acontece com todos nós, e temos que compreender o que se passa em nosso coração”.
Esta, acrescentou o Papa, “é a pergunta que devemos nos por: ‘O que se deve fazer quando vivemos estes momentos escuros, por uma tragédia familiar, por uma doença, por alguma coisa que me leva ‘prá baixo’. Alguns pensam em engolir um comprimido para dormir e tomar distância dos fatos, ou beber ‘dois, três, quatro’ golinhos’... “Isto não ajuda. A liturgia de hoje nos mostra como lidar com a desolação espiritual, quando ficamos mornos, prá baixo, sem esperança”.
Quando nos sentimos perdidos, rezar com insistência
No Salmo responsorial 87 está a resposta: “Chegue a ti a minha prece, Senhor”. É preciso rezar – disse o Papa – rezar com força, como disse Jó: gritar dia e noite até que Deus escute:
“É uma oração de bater na porta, mas com força! “Senhor, eu estou cheio de desventuras. A minha vida está à beira do inferno. Estou entre aqueles que descem à fossa, sou como um homem sem forças’. Quantas vezes nós sentimos assim, sem forças... E esta é a oração. O Senhor mesmo nos ensina como rezar nestes momentos difíceis. 'Senhor, me lançaste na fossa mais profunda. Pesa sobre mim a Tua cólera. Chegue a Ti a minha oração’. Esta é a oração: assim devemos rezar nos piores momentos, nos momentos mais escuros, mais desolados, mais esmagados, que nos esmagam mesmo. Isto é a rezar com autenticidade. E também desabafar como desabafou Jó com os filhos. Como um filho”.
O Livro de Jó, em seguida, fala do silêncio dos amigos. Diante de uma pessoa que sofre, disse o Papa, “as palavras podem ferir”. O que conta é estar perto, fazer sentir a proximidade, “mas não fazer discursos”.
Silêncio, oração e presença, por isso realmente ajuda aqueles que sofrem
“Quando uma pessoa sofre, quando uma pessoa se encontra na desolação espiritual – continuou o Papa -, você tem que falar o mínimo possível e você tem que ajudar com o silêncio, a proximidade, as carícias, com a sua oração diante do Pai":
“Em primeiro lugar, reconhecer em nós os momentos de desolação espiritual, quando estamos no escuro, sem esperança, e nos perguntar por quê? Em segundo lugar, rezar ao Senhor, como na liturgia de hoje, com este Salmo 87 que nos ensina a rezar, no momento de escuridão. 'Chegue a Ti a minha oração, Senhor'. E em terceiro lugar, quando me aproximo de uma pessoa que sofre, seja por doenças, seja por qualquer sofrimento, mas que está na desolação completa, silêncio; mas silêncio com tanto amor, proximidade, ternura. E não fazer discursos que, depois, não ajudam e, também, lhe fazer mal”.
"Rezemos ao Senhor - concluiu Francisco –, para que nos conceda essas três graças: a graça de reconhecer a desolação espiritual, a graça de rezar quando estivermos submetidos a este estado de desolação espiritual, e também a graça de saber acolher as pessoas que passam por momentos difíceis de tristeza e de desolação espiritual”. (SP)
Fonte: Radio Vaticano
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