Naquele tempo, 11Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão. 12Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava. 13Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: “Não chores!” 14Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” 15O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo”. 17E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira e por toda a redondeza..
Temos três formulários para a Missa de hoje. Os três centrados no mistério pascal de Cristo, mas cada um com acento especial. O Celebrante pode escolher um deles e, se celebrar três Missas, como é costume multissecular, não precisa necessariamente usar um formulário depois do outro. O primeiro formulário realça o tema da fé e da esperança em Deus e no Cristo redentor, que nos darão a plenitude da vida. O verso do Salmo responsorial resume bem o tema: “Contemplarei a bondade do Senhor na terra dos viventes” (Sl 27,13). O segundo esquema sublinha a espera da vinda gloriosa do Senhor e a derrota da morte. De novo é o Salmo responsorial que faz a síntese: “Não se decepcionarão os que esperam em ti” (Sl 25,3). O terceiro formulário, que privilegiamos neste ano, ressalta o comportamento cristão durante a vida, em vista da escatologia, isto é, em vista da morte, que o espera, e da glorificação prometida. O Salmo responsorial destaca bem essa perspectiva: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivente” (Sl 42,3). Ou ainda o último versículo do Evangelho: “Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12).
A comemoração dos Mortos está muito bem posta junto à festa de Todos os Santos. As duas estão ligadas pela fé e pela esperança no destino eterno da criatura humana, redimida por Jesus Cristo. Os santos lembram a meta alcançada, em que não precisam mais da fé e da esperança, porque tudo é amor (1Cor 13,8). A celebração de hoje é toda tecida de esperança e fé e, por isso, bastante voltada para as boas obras realizadas por nossos mortos ou que devemos fazer nós, para alcançar a coroa da vida eterna (Ap 2,19). São Pedro expressou bem essa fé e essa espera/esperança, quando escreveu: “O Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua grande misericórdia, regenerou-nos para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dos mortos, para uma herança incorruptível, incontaminada e imarcescível, reservada nos céus para nós” (1Pd 1,3-4).
Pertencemos ao Senhor
A morte é o caminho necessário de todos os viventes (1Rs 2,2). Caminho que termina em Deus, de onde, um dia, saímos.
Se o Antigo Testamento não teve clareza com o que acontece ao ser humano depois da morte, o Novo Testamento é claro: Cristo conseguiu a vitória sobre a morte e levou a criatura a participar da vida incorruptível e eterna de Deus. O mesmo Senhor, que nos deu a vida, dá-nos a morte. “Tu. Senhor, tens poder sobre a vida e sobre a morte” (Sb 16,13). O mesmo Senhor, que nos criou por amor, acolhe-nos para um amor infinito, para uma perfeita comunhão com ele. São Pedro expressa–o com palavras fortes: “Fugindo da corrupção, tornamo-nos participantes da natureza divina” (2Pd 1,4).
Nossa vida e nossa morte pertencem ao Senhor (Eclo 11,14). Os bens que do Senhor recebemos e os bens que fizemos são do Senhor, embora tenham frutificado para nós. Nós inteiros, corpo e alma, pertencemos ao Senhor. São Paulo escreveu aos Romanos: “Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,8). Por isso, a melhor atitude diante da morte é deixar-nos ficar serenamente na mão de Deus, como o fez Jesus, no momento em que morria na Cruz: “Nas tuas mãos, Senhor, entrego-me!” (Lc 23,46). A morte é um encontro festivo do amor divino e da vida humana. São Paulo mostra-se incisivo: “É preciso que este corpo corruptível se revista de incorrupção e que este ser mortal se revista de imortalidade” (1Cor 15,53). A morte é a ponte entre a bela vida terrena e passageira para a belíssima vida celeste, divina e eterna.
A figura da ponte nos lembra que há uma ligação entre os dois lados. Embora os mortos não possam retornar, nós formamos com eles uma comunhão, o que significa que há uma possibilidade de comunicar-nos com eles. Não no sentido de eles poderem aparecer, mas no sentido de nos podermos ajudar mutuamente. Ensina-nos o Concilio: “A união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo, de maneira nenhuma se interrompe, ao contrário, conforme a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida pela comunicação dos bens espirituais. Pelo fato de os habitantes do céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja, enobrecem o culto que ela oferece a Deus aqui na terra e contribuem de muitas maneiras para a sua mais ampla edificação” (Lumen Gentium, 49). Os mortos nos podem ajudar. Cito ainda o Concílio: “Por sua fraterna solicitude, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Lumen Gentium, 49). Mas nós também podemos ajudá-los com nossa oração pessoal e comunitária, sobretudo com a Missa, mistério de morte e ressurreição, em que comungamos, como diz a primeira Oração Eucarística, “o Pão da vida eterna e o Cálice da nossa salvação”.





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