Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13O cobrador de impostos, porém, ficou a distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ 14Eu vos digo, este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”.
Fariseu mais que perfeito
30º Domingo do Tempo Comum
- Ano C
Evangelho de Lucas 18,9-14
REFLEXÃO
A parábola apresenta dois modos de dialogar com Deus: o fariseu e o publicano. O primeiro é presunçoso: elenca suas qualidades e despreza os outros; o segundo é humilde: reconhece suas fraquezas e misérias. O fariseu era homem correto e honesto, cumpridor dos seus deveres religiosos, pensando ter méritos diante de Deus. O problema dele era sua arrogância, o julgamento negativo e o desprezo dos outros. O publicano é um pecador público, cobrador de impostos, que reconhece sua pequenez, mas também a grandeza e a misericórdia de Deus. Ninguém pode considerar-se justo a ponto de ter méritos diante de Deus e desprezar os outros. Diante de Deus, necessitamos estar desarmados de toda presunção e preconceito: presunção de nos considerarmos perfeitos e melhores que os outros; preconceito contra os outros, rotulando-os. Lembrar nossa pequenez e nossas limitações muda nossa relação com Deus, tornando-nos mais abertos à ação dele e criando espaços de fraternidade e partilha com os outros.
(Dia a Dia com o Evangelho 2025 - PAULUS)[1]
Coleta
Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e, para merecermos alcançar o que prometeis, fazei-nos amar o que ordenais. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Fariseu mais que perfeito
O quadro que Jesus compõe é perfeito: aos olhos humanos, tanto o fariseu quanto o publicano fizeram boa oração. Os fariseus levavam muito a sério o cumprimento das Leis. Numa Jerusalém que chegava perto dos 30 mil habitantes, os fariseus, talvez, não chegassem a seis mil, mas tinham grande influência sobre o povo. Deles faziam parte os escribas (mestres da Lei) e parte da classe sacerdotal. Para eles a Lei era a expressão da vontade de Deus. Cumprir a Lei em seus pormenores era cumprir inteiramente a vontade de Deus e, portanto, ser merecedor de todas as graças e privilégios.
O fariseu que hoje reza no Templo ultrapassa o fariseu perfeito. A Lei exigia um jejum por ano, no dia da Reconciliação (Lv 16,29-39). Ele, porém, jejuava duas vezes por semana. Provavelmente para expiar os pecados do povo ignorante e assim desviar a ira de Deus, que poderia castigar com catástrofes nacionais, como acontecera várias vezes na história. A Lei mandava pagar o dízimo do trigo, do óleo, do vinho novo e entregar no Templo o primogênito dos animais. O nosso fariseu declara que paga o dízimo de todas as suas rendas, talvez para reparar o crime legal dos comerciantes que não pagavam na fonte.
Amor e humildade
Também a forma de o fariseu rezar é muito boa: entre os judeus se fazia, sobretudo, oração de louvor e agradecimento, que é sempre melhor do que a oração de pedidos. Reza em pé, não por orgulho, mas porque os judeus costumavam rezar em pé. Tudo parece certo: oração em público, no Templo, lugar privilegiado para a oração; oração de agradecimento por fazer as coisas melhor do que era sua obrigação. Onde está o erro fundamental, que anula por inteiro a oração, impedindo sua justificação (o perdão e a santificação)?
São dois os erros. O primeiro é o desprezo pelos outros, ainda que pecadores (v. 13). Aqui está uma medida indicada várias vezes por Jesus para sabermos o tamanho e a intensidade do nosso amor a Deus. Amamos a Deus não na medida do cumprimento das leis, mas na medida do amor que temos ao próximo, incluídos os que não nos amam ou não pensam como nós. O Apóstolo Paulo, no capítulo 13 da Carta aos Coríntios, enumera todas as qualidades possíveis numa pessoa, para dizer: “Mas, se eu não for caridoso, nada sou” (1 Cor 13,1- 3).
O segundo erro do fariseu é a autojustificação. Deixa entrever que se santifica a si mesmo e nada precisa de Deus a não ser recompensa. Não é o fato de enumerar as coisas boas que faz que esteja errado. Há salmos que também enumeram bens feitos (por ex. Sl 17,2-5). Mas nosso fariseu esquece que toda justificação vem de Deus, porque só Deus é a fonte da santidade.
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.[2]
---





Comentários
Postar um comentário