Naquele tempo, 5os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” 6O Senhor respondeu: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. 7Se algum de vós tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: ‘Vem depressa para a mesa’? 8Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: ‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois disso, tu poderás comer e beber’? 9Será que vai agradecer ao empregado, porque fez o que lhe havia mandado? 10Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’”.
A fé pode ser pequena
27º Domingo do Tempo Comum
- Ano C
Evangelho de Lucas 17,5-10
REFLEXÃO
Na viagem a Jerusalém, os apóstolos reconhecem sua falta de fé, por isso o pedido: “Aumenta nossa fé”. Jesus mostra-lhes a importância da fé, mesmo pequena. A fé do cristão não está em aderir a um conjunto de verdades abstratas, mas trata-se de uma escolha concreta: a de seguir o Mestre. Segundo o texto, o poder da fé é muito grande, consegue coisas humanamente impossíveis. A pequena parábola pode chocar os corações mais genuínos. Ela dá a impressão de justificar a escravidão, mas Jesus não aprova escravidão nenhuma, apenas aproveita da realidade presente no seu tempo, em que havia muitos escravos. Precisamos de muita fé para compreender nossa contribuição gratuita ao serviço do Reino de Deus. A parábola mostra que os servidores do Evangelho não devem esperar aplausos e recompensas. Ela quer desfazer o conceito de um “deus capitalista”, uma troca de favores, que recompensa ou castiga conforme nosso agir. Deus nunca esquecerá o bem que fazemos, mas não o fazemos para ter méritos diante dele.
(Dia a Dia com o Evangelho 2025 - PAULUS)[1]
Coleta
Deus eterno e todo-poderoso, que no vosso imenso amor de Pai nos concedeis mais do que merecemos e pedimos, infundi em nós vossa misericórdia, para perdoar o que nos pesa na consciência e para nos dar mais do que a oração ousa pedir. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
A fé pode ser pequena
O pedido dos Apóstolos está dentro de uma lógica. Jesus havia insistido no desprendimento de todos os bens (Lc 12,15-34), coisa absolutamente nova na teologia hebraica. Havia exigido o desprendimento da família e das coisas familiares (Lc 14,26), o que era difícil de entender para quem tinha uma cultura de clã. Havia mostrado uma imagem de Deus totalmente nova, na figura do velho pai que abraça, perdoa e acolhe o filho pródigo, sem pedir satisfações nem impor condições (Lc 15,20-24). Nos versículos que precedem o trecho de hoje (Lc 17,3-4), Jesus ensina que o perdão não tem limites e isso a homens cuja generosidade maior havia chegado até à lei do talião, isto é, ‘elas por elas’.
Os Apóstolos estão atônitos. Mas, em vez de recuar e abandonar o Mestre, pedem aumento de fé. As exigências de Jesus ultrapassam sua compreensão. Ou melhor, começam a entender que estão entrando num mundo novo, com outra lógica de raciocínio e outras regras de comportamento. Jesus os convida a não pensar a fé em termos de grandeza ou quantidade. A fé pode ser pequena como um grão de mostarda (v. 6), mas terá a força de fazer coisas extraordinárias, até mesmo contra as leis da natureza, como plantar uma árvore sobre as ondas do mar. A fé põe a criatura em comunhão com Deus e a faz participar de sua força criadora e salvadora.
Também a parábola (vv. 7-9) vem contada em função da fé. Observemos que a exigência do patrão da parábola era coisa normal. Mas não é ela que dita a lição. Mesmo porque Deus não se comporta como o patrão, que não deixa um momento de sossego ao empregado. Pouco antes, com as parábolas da misericórdia, Jesus nos mostrara o verdadeiro modo de agir do Pai. E ele mesmo foi muito explícito em dizer que viera para servir e não para ser servido (Lc 12,32).
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.[2]
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