Por Agostinho Travençolo Junior, educador e coordenador da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo
Em tempos em que o planeta grita por socorro e a dignidade humana é ameaçada por guerras, desigualdade e destruição ambiental, a Missão Sem Fronteiras 2025 reacendeu uma chama de esperança e compromisso com a vida. Em sua quinta edição, o projeto reuniu mais de 80 estudantes e educadores da Rede de Educação, no Colégio Stella Matutina - Juiz de Fora–MG, em uma jornada de três dias marcada por solidariedade, espiritualidade, partilha e transformação social, reafirmando que cuidar da Casa Comum é um gesto revolucionário.
Inspirados por esse lema “Seja a mudança que você quer ver no mundo”, os participantes vivenciaram, ainda em preparação para o encontro, trilhas formativas que conectaram mente, coração e ação. Os temas “Pequenos gestos transformadores”, “Ecoespiritualidade” e “A dignidade da pessoa” nortearam os encontros preparatórios que aqueceram os corações para a missão.
A missão iniciou no dia 27 de junho, com a chegada calorosa das sete delegações de jovens missionários vindos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Ponta Grossa, Cascavel e Canoas. Entre músicas, dinâmicas e abraços, a alegria do encontro já anunciava que aquele seria um tempo de graça, aprendizado e compromisso profundo com a vida.
Do lixo à dignidade: a missão nos barracões de reciclagem
O ponto mais marcante da missão aconteceu nas associações de catadores de Juiz de Fora (Barbosa Lage, Santa Cruz, Olavo Costa e ASCAJUF). Lá, os estudantes não apenas ouviram depoimentos tocantes, mas também colocaram a mão na massa: separaram resíduos, prensaram materiais recicláveis e refletiram sobre o impacto dos nossos hábitos de consumo.
“Cada objeto que separo é como um diamante tirado da areia”, disse um dos recicladores, com brilho nos olhos e dignidade na fala.
A atividade revelou não só a urgência do cuidado ambiental, mas também o poder de uma economia solidária, onde tudo o que é arrecadado é dividido igualmente entre as famílias associadas. O conhecimento é valorizado: muitos catadores, mesmo sem oportunidades formais anteriores, estudam com afinco no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e se especializam por meio de parcerias com universidades locais.
No último dia, os missionários visitaram o Parque Estadual de Ibitipoca, onde contemplaram a natureza e celebraram a criação. Em meio à mata, rios e trilhas, a espiritualidade se entrelaçou com a ecologia, reforçando a certeza de que “tudo que move é sagrado”. Essa experiência foi também um reencontro com a ecoespiritualidade, que reconhece a sacralidade da Terra e a interdependência entre todos os seres.
Uma missão que planta sementes
Cada participante retornou para suas escolas levando consigo mais do que lembranças, levaram sementes: de esperança, de consciência, de compromisso. Levaram também o desafio de “descer dos prédios”, como simbolicamente foi dito, e enxergar a realidade de uma sociedade desigual com olhos de justiça e compaixão.
Em meio a um cenário internacional marcado por guerras e crises humanitárias, a missão se mostrou um grito de vida e um apelo para que novas formas de convivência, baseadas no respeito, na horizontalidade e na ecologia integral, sejam construídas com urgência.
“Se minha filha quiser seguir meus passos, terei orgulho. Porque isso aqui é missão, não é só trabalho”, disse um reciclador, ao ser perguntado sobre o futuro que deseja para sua filha de seis anos. Essa frase ecoou forte entre os jovens e educadores. O cuidado com a Casa Comum deixou de ser teoria: virou prática, afeto, transformação.
Missão que não termina aqui
A Missão Sem Fronteiras 2025 mostrou que é possível, sim, fazer a diferença. Através da escuta, da convivência, da ação concreta e da espiritualidade comprometida, os participantes experimentaram uma nova forma de ser no mundo — mais consciente, mais humana, mais fraterna.
Esse é um caminho para salvar a vida no planeta, entender o outro como companheiro de viagem, deixar marcas de transformação pelas quais fomos chamados.
Depoimentos dos jovens participantes
“Participo das ações da escola desde meu oitavo ano e me encanto cada vez mais com esse tipo de dinâmica e com as missões. Para mim é uma honra estar imersa na experiência de se doar para o outro, e ajudar!”, Cecília Fonseca Xavier.
“Achei uma experiência de grande importância para entender e desenvolver uma consciência de coletividade e empatia, além de exercer a solidariedade e caridade”, Daniel de Aquino.
“Eu entrei na juventude missionária no oitavo ano e desde então sempre me interessei pelo projeto, eu participei da missão do Rio de Janeiro e nas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira e foram experiências que me fizeram crescer como pessoa e me ajudaram a entender e sair da minha própria bolha. Me ensinou a ter compaixão e amor pelo próximo e, além de tudo, que nunca devemos nos elevar, ou seja, dizer que somos melhores por aspectos superficiais. Então participar da missão sem fronteiras 2025 foi algo importante para mim como pessoa. Eu sinto que ser missionária faz parte de mim e faz parte de quem eu sou", Dauanda Batista Vidal.
“Participar da Missão sem Fronteiras 2025 foi uma experiência e uma oportunidade única de conhecer outras realidades, promovendo a troca de culturas e acolher ao próximo com empatia e solidariedade. Acredito que essa experiência me trará crescimento tanto pessoal quanto coletiva, ao aprender a escutar com atenção e ajudar aqueles que precisam. Estar em contato com tantas histórias diferentes fortaleceu minha visão de mundo”, Julia Oliari.
“Foi uma oportunidade única de expandir meus horizontes e fazer um intercâmbio cultural enriquecedor pelas trocas com outros alunos da Rede de Educação Servas Missionários do Espírito Santo e por conhecer uma nova realidades fora da minha zona de conforto. Questionar a realidade em que vivemos e, acima de tudo, buscar uma mudança para essa realidade produtora de vulnerabilidades”, Maria Julia Travençolo da Silva.
“Acredito que é de vital importância lutar pela desigualdade social e econômica que permeia a nossa civilização, buscando uma sociedade mais equilibrada, além dos direitos humanos, igualdade de gênero e apoio à saúde mental”, Julia Oliari.
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