Naquele tempo, 38Jesus entrou num povoado e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. 40Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” 41O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. 42Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada”.
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A escuta da Palavra
16º Domingo do Tempo Comum
- Ano C
Evangelho de Lucas 10,38-42
REFLEXÃO
Na caminhada para Jerusalém, Jesus é recebido na casa de suas amigas Marta e Maria. Marta acolhe o Senhor com muito carinho e se preocupa em servi-lo, tarefa própria da mulher na cultura judaica. Maria se coloca à escuta da palavra do Mestre, algo que cabia aos homens. Cada uma delas se relaciona com ele de forma diferente: servindo-o ou escutando-o. Duas maneiras complementares, uma não exclui a outra. Cada uma encarna um modo de se relacionar com o Ressuscitado. Marta manifesta a alegria da presença do Mestre, servindo-o. A atitude de Maria quebra o sistema da época: não se permitia a uma mulher “estar aos pés” de um mestre para ouvi-lo e aprender. Jesus quebra o preconceito contra as mulheres: aceita Maria aos seus pés. A escuta da Palavra de Deus não tira as pessoas da ação, mas dá novo sentido ao fazer. Acolher a Palavra (contemplação) para pô-la em prática (ação). Em cada um de nós, existe um pouco de Marta e um pouco de Maria. Não somos somente Marta nem somente Maria.
(Dia a Dia com o Evangelho 2025 - PAULUS)[1]
Coleta
Senhor, sede propício a vossos fiéis, e, benigno, multiplicai neles os dons da vossa graça, para que, fervorosos na fé, esperança e caridade, perseverem sempre vigilantes na observância dos vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
A escuta da Palavra
Qualquer dona de casa sabe que dar de comer a 13 homens, chegados de viagem, exige uma série de preparativos. Era o que Marta estava fazendo, exatamente o que qualquer dona de casa faria e faz ainda hoje. A expressão ‘estava ocupada com muitos afazeres’ ou ‘andava atarefada com o serviço’ (v. 40) é uma tradução não inteiramente exata do vocábulo grego original, que traz consigo a ideia de ‘distração’. Marta estava atarefada, sim, porém seu trabalho a fazia ficar distraída (não ouvia a palavra de Jesus). O trabalho é necessário e bom. O trabalho (como o de Marta) pode ser expressão de caridade e verdadeiro serviço fraterno. Mas só o será, se não for empecilho para a escuta da Palavra de Deus. E a oração rezada só terá sentido, se ligada à escuta da Palavra de Deus.
E o que é escutar a Palavra de Deus? São Paulo, na Carta aos Romanos, dirá que “a fé nasce da escuta da Palavra de Cristo” (Rm 10,17). Em certo momento, Jesus elogia a grandeza de sua mãe, não apenas pela maternidade, mas por “escutar a Palavra de Deus” (Lc 11,28). E diz aos judeus que o pecado deles consiste em “não escutar a Palavra de Deus” (Jo 8,43). Não se trata de supervalorizar a contemplação em detrimento da ação. Não há primazia da contemplação. O que é necessário é que toda a nossa ação brote da Palavra de Deus e dela se nutra.
Escutar a Palavra de Deus é não só lê-la com os olhos ou ouvi-la com os ouvidos ou compreendê-la com o intelecto, mas transformá-la em prática de vida, em forma de oração, em comportamento, em obras (Mt 7,24), a ponto de podermos dizer com São Paulo: já não sou eu que faço, já “não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Todos são chamados a essa experiência. A todos é dada essa graça.
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.[2]
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