Naquele tempo, disse Jesus: 27“As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. 28Eu dou-lhes a vida eterna, e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. 29Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos um”.
Ouvir, conhecer, seguir
4º Domingo do Tempo Pascal
- Ano C
Evangelho de João 10,27-30
REFLEXÃO
Encontramos, aqui, a essência da fé cristã: Jesus vem do Pai e volta ao Pai, e nos arrasta nesse movimento de ascensão. Então, podemos viver na confiança total em relação a Jesus, a quem expressamos nossas necessidades e súplicas: “O que vocês pedirem a meu Pai em meu nome, ele vai lhes dar”. A oração feita em nome de Jesus nasce de profunda intimidade com ele, com o Pai e com o Espírito Santo. O Espírito, de fato, é quem garante a eficácia de nossa oração, pois não sabemos o que pedir: “É o próprio Espírito que intercede com insistência por nós, com gemidos que não se exprimem” (Rm 8,26). Então, pedir o quê? Tudo o que contribui para a vida individual e comunitária do ser humano e para a comunicação dessa vida a outros.
(Dia a Dia com o Evangelho 2025 - PAULUS)[1]
Coleta
Deus eterno e todo-poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que a fragilidade do rebanho chegue onde a precedeu a fortaleza do pastor, Jesus Cristo. Ele, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Ouvir, conhecer, seguir
Há três passos a serem dados: ouvir a voz, conhecer de quem é a voz, seguir quem chamou. Esses três passos são, muitas vezes, aplicados às vocações sacerdotais e religiosas, porque a vocação não é outra coisa senão um chamado individual (vocação vem do verbo latino vocare, que quer dizer chamar), um reconhecimento do chamado e um seguimento. Por isso, hoje, em muitas comunidades se celebra o domingo das vocações, que, no Brasil, passou a ser celebrado em agosto.
Mas todos são convidados a dar esses três passos, porque todos são ovelhas do Senhor. Falo em três passos, porque o ‘escutar’ vem antes do ‘conhecer’. Daí a insistência em estar atento à voz de Deus. A iniciativa do chamado é sempre de Deus. Costumamos conhecer as pessoas pela voz. Com facilidade distinguimos uma voz da outra. Isso nem sempre acontece com a voz de Deus, porque ela não se escuta pelos ouvidos, mas pelo coração. Um coração reto, uma consciência equilibrada e generosa distinguem a voz de Deus. Vinda de Deus e tendo-a nós escutado com atenção, ela vira obediência. Obedecer vem de duas palavras latinas ob-audire, isto é, ouvir com atenção. Esse ‘ouvir com atenção’ está implícito no verbo ‘conhecer’, no linguajar do Evangelista João.
Estamos acostumados a conhecer com a razão. Para João conhecer implica o ser humano inteiro, sua inteligência, seu sentimento, sua vontade. Talvez poderíamos dizer: deixar-se embeber. São Paulo expressa esse passo lindamente: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). O terceiro passo é consequente: seguir Cristo, na certeza de que ele conhece o caminho e a meta. Esse seguir se torna gostoso quando nos lembramos da outra promessa de Jesus: as ovelhas estarão comigo e “ninguém as arranca de minha mão” (v. 28). Como toma sentido imenso, então, o verso do Salmo: “Não temerei mal algum, porque estás comigo” (Sl 23,4). Ao longo do caminho, o ‘escutar’, o ‘conhecer’ e o ‘seguir’ entrelaçam-se normalmente e nós passamos a viver em permanente escuta, permanente discernimento, permanente caminhada com ele, ou, para usar uma passagem pascal, em permanente estrada de Emaús.
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.[2]
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