Enquadrado em realidades terrenas, Jesus vem envolto em realidade divina
O Evangelho de hoje é extraordinariamente rico em indicações, insinuações e ideias em torno do programa salvador de Jesus. Como os quatro evangelistas são muito sintéticos ao contar os fatos e como muitas vezes usam símbolos e figuras, devemos sempre estar atentos ao que há por trás das palavras. Logo no início, temos uma afirmação histórica: a prisão de João Batista. Mas, por trás do texto, há mais que prisão. O texto original diz que João ‘foi entregue’, e essa expressão sugere duas coisas: que João era inocente e sua prisão, vontade de Deus. O mesmo vocábulo Mateus o empregará mais tarde em relação a Jesus (20,18s e 26,2). Mateus está insinuando que tudo quanto ocorrerá a Jesus, a partir do momento em que começa a sua vida pública, é vontade do Pai.
Ao dizer que Jesus ‘voltou para a Galileia’, Mateus está sugerindo que Jesus estava em alguma parte do deserto da Judeia (cf. o episódio das tentações, 4,8) e, ao saber da prisão de Batista, ou fugiu para a Galileia, a fim de aguardar sua hora, ou viu na prisão de João o sinal para começar. Ou, ainda, seria uma forma estilística de acentuar o lado humano de Jesus, condicionado ao lugar de criação (Nazaré), a um ambiente de trabalho (Cafarnaum), para dizer que, embora enquadrado em realidades terrenas, ele envolverá verdades e realidades divinas. De fato, os evangelistas sempre acentuaram o lado humano, para que ninguém pensasse um Jesus-fantasma, Jesus-lenda, Jesus-mito. Mas sempre acentuaram também sua origem divina e sua missão salvadora. Mateus coleta inúmeras profecias do Antigo Testamento e as mostra acontecidas em Jesus de Nazaré. A profecia de hoje se realiza perfeitamente: fixa o tempo e o espaço (lado humano) e a missão salvadora (luz, lado divino).
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.[2]
Comentários
Postar um comentário