Apesar da pandemia e da política, sempre há luz no final do túnel


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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 28/03/21

Para o cristão, a vida pode ser drama, mas não deveria se tornar tragédia; o túnel escuro pode ser longo, mas não é um buraco sem saída

É muito triste ver os brasileiros desesperançados diante da pandemia e da situação política do País. Pensávamos que 2021 seria um ano “mais normal”, mas vemos um recrudescimento da pandemia e temos a impressão de estarmos diante de uma quarentena interminável, com mortes, crise econômica e desemprego sem fim. Diante dessa conjuntura, realmente caótica e dramática, os políticos parecem continuar se orientando por interesses particulares, entregues a devaneios ideológicos ou a negociatas interesseiras. Uma sensação deprimente, mistura de impotência, raiva e desilusão, acomete a muitos de nós – e, convenhamos, com boa parcela de razão.

Contudo, para o cristão, a vida pode ser drama, mas não deveria se tornar tragédia; o túnel escuro pode ser longo, mas não é um buraco sem saída. A tragédia sempre acaba mal, mas o drama, apesar de todo o seu sofrimento, pode ter um desfecho feliz. As dificuldades, por mais dolorosas que sejam (e não há dor maior e mais inexorável do que a da morte) não se tornam tragédia na medida que são iluminadas pela luz no final do túnel: a esperança. Diante da situação atual, renova-se uma das grandes questões do cristianismo: de onde vem aquela esperança que “não decepciona”? 

Cristo é a esperança que não decepciona, mas essa frase pode parecer uma espécie de autoengano, um esforço piedoso para fugir da realidade, mais uma ideologia para iludir nossos corações doloridos (aliás, é assim que tanto o marxismo quanto o positivismo viram o cristianismo). O Papa Francisco, nas comemorações do Natal de 2020, em meio à pandemia, observou com propriedade: “Uma leitura da realidade sem esperança não se pode chamar realista. A esperança dá às nossas análises aquilo que muitas vezes o nosso olhar míope é incapaz de captar […] O nosso tempo também tem os seus problemas, mas possui igualmente o testemunho vivo de que o Senhor não abandonou o seu povo […] Quem não olha a crise à luz do Evangelho limita-se a fazer a autópsia dum cadáver: olha a crise, mas sem a esperança do Evangelho, sem a luz do Evangelho”.

Perder essa relação fundamental entre realismo e esperança é um sinal claro de que nossa mentalidade não é mais cristã, que – por mais que rezemos ou afirmemos princípios cristãos – estamos pensando como o mundo e não como os “amigos de Cristo”. Nesse artigo, não quero discorrer sobre a espiritualidade da esperança, outros em Aleteia podem fazê-lo muito melhor do que eu. Minha questão é como a mentalidade hegemônica na sociedade corrói a nossa esperança e nosso discernimento justamente no momento em que mais necessitamos deles.

A esperança que não é ilusão

Bento XVI tem uma percepção aguda da falta de esperança em nossa sociedade. Escreveu “Santo Agostinho […] notou uma reciprocidade entre scientia e tristitia: o simples saber, disse ele, deixa-nos tristes. E realmente quem se limita a ver e apreender tudo aquilo que acontece no mundo, acaba por ficar triste”. Mais adiante, no mesmo texto, irá citar o “otimismo que vive na fé cristã”, pois na fé aprendemos a bondade do Amor de Deus e que a verdade última se revela como bem para todos nós. Ciente, contudo, desse déficit de esperança em nosso tempo, o Papa emérito escreveu sua encíclica Spe salvi, “Salvos pela esperança” (SS, 2007).

A esperança, de certa forma, se identifica com a própria fé, observa Bento XVI (SS 2). Contudo, a fé que desabrocha como esperança não é um simples “acreditar em coisas que não se veem”. Se fosse assim, pareceria realmente um discurso ilusório. A fé, em sua essência, é o reconhecimento da presença de Deus em nossa vida. Uma presença que se tornará dominante na vida eterna, mas que já está presente e operando agora (cf. SS 7). Nesse sentido, podemos entender que a fé se apoia numa experiência pessoal de encontro com Cristo.

A fé nos foi transmitida pelo anúncio de outros que conheceram a Cristo antes de nós, mas como os samaritanos, também podemos dizer: “Já não é por causa do que você falou que cremos. Nós mesmos O ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4, 42). Se perdemos de vista as maravilhas do amor de Deus que testemunhamos em nossas vidas, aquilo que vimos acontecer, conosco e com os demais, não conseguimos ter esperança. Quando perdemos a esperança, é sinal de que não mais “fazemos memória” daquilo que o Senhor já fez por nós. Para o cristão, memória e esperança são indissociáveis.

Mas, a lembrança das coisas boas do passado não é suficiente para nos manter firmes no presente, quando esse se apresenta cheio de problemas, dificuldades e sofrimentos. Aqui, talvez, o testemunho dos casados há muito tempo pode ser de ajuda para nós. A vida de um casal não é feita apenas de momentos bons. Todos acumulam, em sua vida conjugal, alegrias e tristezas, beleza e sofrimento. Contudo, quando olham retrospectivamente, os cônjuges percebem que tanto os momentos bons quanto os difíceis ajudaram a construir e solidificar o amor de um pelo outro – mais ainda, tanto as alegrias quanto as tristezas são necessárias para que a comunhão entre os esposos se fortaleça e se torne certeza para toda a vida.

Para quem vive à luz do amor, todo acontecimento é ocasião para reafirmar a beleza do amor, mesmo quando se revela na dor e no sofrimento. Assim é com os esposos, assim é com os cristãos em sua relação com Deus. Todo acontecimento nos dá oportunidade para aprofundarmos nossa experiência de sermos amados por Deus – e, portanto, também a nossa fé, que se manifesta como esperança. As dificuldades desse tempo de pandemia e escândalos políticos não são diferentes das outras… Podem igualmente servir para fortalecer nossa fé e nossa esperança.

O grande obstáculo

Como a mentalidade dominante se interpõe a esse caminho de amadurecimento cristão? Nos fazendo olhar apenas para nós mesmos. Vivemos numa sociedade individualista, onde a satisfação da própria vontade é confundida com a realização integral da pessoa. Coisas, acontecimentos e pessoas são mensurados em termos do quanto de prazer nos proporcionam. Ser feliz, acreditamos nesses nossos tempos, é fazer o que se quer. Quanto menos olharmos para os outros e para as circunstâncias, melhor.

Com isso, deixamos não só de olhar para nossos irmãos, mas também para Deus. Ele passa a ser alguém a quem pedir exaustivamente que satisfaça nossas vontades. E quando elas não se realizam? Talvez não deixemos de “acreditar” Nele, mas nos desesperamos. Uma fé assim não é memória do encontro com Cristo, mas reafirmação de nossas ideias e vontades. Esse é o grande obstáculo que não nos permite viver com otimismo e amor as dificuldades e até as dores, que realmente acontecem e não deixarão de nos fazer sofrer – mas que não precisam dar a última palavra sobre a nossa vida. 

Fonte: Aleteia

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Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, tende piedade de nós.
Coração de Maria, Mãe do Filho de Deus, rogai por nós.

Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo, tende piedade de nós.
Coração de Maria, obra-prima do Espírito Santo, rogai por nós.

Corações unidos no amor e na dor, salvai-nos.
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