Para os devotos de Nossa Senhora do Monte Serrat, o 8 de setembro é um dos dias mais importantes do ano
Sergio Willians
Colaborador / 08.09.20 8h44
Os passos são lentos, porém decididos e, um a um, vencem os degraus que levam ao alto do Monte Serrat e a mais uma etapa do compromisso feito à Virgem Maria. O pagamento de promessas à santa que, segundo a lenda, livrou os santistas dos ferozes piratas que invadiram a vila em 8 de fevereiro de 1615, tornou-se uma forte tradição.
A celebração, porém, passou a ser comemorada em outro dia 8, no mês de setembro, data da natividade da Nossa Senhora do Monte Serrat original, a da Catalunha, cuja história permeava a vida religiosa dos europeus desde os primeiros tempos do catolicismo. Segundo a tradição católica, a primeira imagem da virgem catalã teria sido construída por São Lucas e levada ao seu atual local, o Montserrat, na Catalunha, por São Pedro, no ano 50.
Em Santos, a devoção principiou, com maior fé, há mais de 400 anos. Desde então, romarias, procissões e penitências ocorreram com maior frequência justamente nas proximidades do mês de setembro, ocasião em que os fiéis cumprem sua jornada, levando oferendas e votos à Virgem Santíssima.
A origem
A relação de Nossa Senhora do Monte Serrat com Santos se estabeleceu no final do século 16, quando o então governador geral do Brasil (durante o período Filipino), dom Francisco de Souza, que, apesar de lusitano, era próximo ao rei Filipe e fervoroso devoto da santa padroeira da Catalunha.
Ele resolveu mandar erguer uma capela em sua consagração no alto do Morro de São Jerônimo (entre 1598 e 1603). Administrada pelo então vigário de Santos, padre Manuel S. Lagarta, o templo era praticamente ignorado pelos colonos portugueses, que preferiam dedicar suas orações à Santa Catarina de Alexandria.
Nossa Senhora do Monte Serrat só conquistaria o coração dos santistas a partir do episódio da invasão holandesa à vila. Alguns anos depois, em 1650, a capela era colocada nas mãos dos monges beneditinos.
A festa
Desde o século 17, as festividades em celebração à Nossa Senhora do Monte Serrat acontecem no alto do morro, restrito ao espaço do pequeno planalto onde se encontra a capela.
A primeira vez que a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat desceu à Cidade foi em 1887, quando estava para ser restaurada. Ela ficou em exposição por vários dias na então igreja Matriz (a antiga, que existiu na atual Praça da República). Pronta na véspera da grande festa, em 7 de setembro, a imagem retornou ao seu posto, num dia que ficou marcado na história de Santos. Mais de três mil pessoas acompanharam a procissão, brindada com os acordes das bandas musicais 13 de Abril, União dos Artistas e Luso-Brasileira.
Ao longo dos anos, a comemoração manteve suas características ancestrais. O povo subia o morro em procissão e, no alto, promovia grandes festas, com exibições de grupos musicais, cantorias e desafios poéticos. Havia também demonstração de capoeira e outros tipos de diversão. Tudo era feito no improviso, sem organização, o que propiciava o comércio de comidas e bebidas sem o menor controle de higiene.
Tal situação fez com que a Diocese, a partir de 1924, assumisse o controle da orientação e dos atos litúrgicos em louvor à Santa Virgem, levando, a partir daí, a procissão para o Centro, promovendo a trasladação da imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat para a Catedral, onde permanecia à devoção dos fiéis durante todo o dia.
Já o retorno da imagem à capela do alto do morro ocorria no final da tarde, com maior acompanhamento e afluência da população católica. Normalmente, a procissão passa pelas principais ruas do Centro. Em algumas ocasiões, faz-se uma breve parada na Praça Mauá, defronte ao Paço Municipal, onde durante muitos anos ocorreu celebração campal.
Mesmo com o passar dos anos, a tradicional festa de Nossa Senhora do Monte Serrat sempre manteve este formato. Contudo, devido à pandemia da covid-19, hoje não haverá missa campal e a procissão pelo Centro da Cidade será substituída por uma carreata, visando manter o distanciamento social.
Oficializada padroeira
Foram necessários pouco mais de três séculos e meio para que Nossa Senhora do Monte Serrat fosse considerada a padroeira oficial santista. A coroação aconteceu em 8 de setembro de 1955, perante a grande assembleia do povo católico de Santos, contando com a presença do então bispo de Santos, dom Idílio José Soares, e do prefeito Antonio Feliciano.
Sergio Willians é jornalista e pesquisador da história de Santos. Conheça seu trabalho no site www.memoriasantista.com.br.
Fonte: A Tribuna
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