Presidente da Comissão Vida e Família da CNBB: Estejamos alertas para salvar nossas crianças


Dom Ricardo Hoepers / Foto: CNBB

BRASILIA, 19 ago. 20 / 11:40 am (ACI).- O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Ricardo Hoepers, assinalou a importância de estar “alerta para salvar nossas crianças”, tanto em relação aos casos de estupro quanto ao aborto.

O também Bispo de Rio Grande (RS) fez esta declaração em entrevista ao programa ‘Com a Mãe Aparecida’, da Rede Aparecida de Rádio, divulgada pelo site da CNBB. Na ocasião, o Prelado comentou o caso da menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada pelo próprio tio e foi submetida a um aborto na 22ª semana de gestação.

“Tínhamos condições de manter as duas vidas. Essa é a posição da Igreja”, afirmou Dom Hoepers.

Prevenção de abusos

Em sua entrevista, Dom Ricardo Hoepers chamou a atenção para a questão do estupro sofrido pela criança, a qual revelou que isso acontecia desde os seus 6 anos. Nesse sentido, ressaltou que “temos que lembrar que a maioria dos abusos são dentro de casa” e “isso torna nossas crianças vulneráveis”.

“Então, sim, temos que ajudar aos pais a alertarem as crianças, conversarem sobre o assunto e de fato ajudarem as crianças até a se defenderem nesse sentido. Mas também temos que mobilizar professores para ver os sinais das crianças nas escolas, às vezes sinais de depressão, de tristeza, de isolamento e tantos outros sinais que uma criança pode começar a demonstrar, como agressividade. Por traz disso pode ter um abusador dentro de casa”, afirmou.

O Prelado também falou sobre a necessidade de se “colaborar para que os catequistas estejam atentos a isso, colaborar para que a sociedade toda, que tem que se mobilizar em torno desse cuidado, dessa salvaguarda dos nossos pequeninos“.

Além disso, advertiu que é preciso ainda acompanhar as crianças “pelas redes sociais e pela internet, que também, além dos abusadores dentro da própria casa, mas também temos os abusadores das redes sociais, que estão espreitando a qualquer momento para dar o seu golpe”.

“É a família, a escola, a Igreja, é a sociedade inteira, é governo com projetos governamentais que têm que ser implantados urgentemente. É uma sociedade em alerta. Eu digo que, diante dessa situação, o mínimo que podemos fazer é nos colocar em alerta para salvar nossas crianças”, disse.

Aborto

Na entrevista, Dom Hoepers ressaltou que se trata de “uma revolta tremenda” a notícia de que a menina sofria estupros desde os 6 anos por parte de seu tio, o qual “é um criminoso” e, portanto, “há um consenso de que ele deve pagar pelo que ele fez”.

Além disso, indicou que é preciso “não só ouvir o coração, que vai nos levar à raiva, ao ódio, mas também a razão, que vai nos ajudar a dar os passos de humanização desse processo. Por isso, como presidente da Comissão Vida e Família, eu entendo que nós precisamos ponderar todas as dimensões”.

Assim, o Prelado lamentou o “resultado final” do caso, isto é, o aborto praticado. Segundo ele, trata-se “de um ato criminoso, de um ato horrendo, de um ato abominável”. “Nós demos a pena capital a um bebê. É uma coisa que eu não me conformo”.

“E é em nome desse bebê que nós como Igreja queremos falar também, queremos refletir. Não estamos negando nenhuma outra realidade, não estamos negando a dureza específica dessa família, especialmente dessa menina-mãe, mas o que nós estamos pensando e temos que refletir – e temos que enfrentar esse debate – é por esta criança ter sido o bode expiatório. Quem levou a culpa de toda a violência foi um bebê inocente”, expressou.

Em seguida, o presidente da Comissão para a Vida e a Família questionou o processo adotado para a prática do aborto. Segundo ele, “não foi respeitado um processo que de fato levasse em conta o estágio em que a criança estava, o laudo técnico que foi dado no hospital em Vitória”.

No Hospital das Clínicas, em Vitória (ES), onde a menina ficou internada no sábado, a equipe médica se recusou a praticar o aborto afirmando que “a idade gestacional não estava amparada na legislação”. Entretanto, a criança foi levada para o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiro (CISAM-UPE), no Recife (PE), onde o aborto foi finalmente praticado.

Dom Hoepers ressaltou que “havia todas as outras possibilidades de sobrevida  das duas crianças”. Portanto, questionou: “Por que optamos pela morte?”.

“Por mais que nós compreendamos o trauma do que significa esse filho [para a menina-mãe], nós temos hoje todas as condições com a ciência, a psicologia, toda essa área de medicina que daria condições de acompanhar essa gestação. E, claro, quantos pais e mães esperando uma criança? Poderia trazer a alegria, a felicidade para alguma família”, declarou, acrescentando que “a posição da Igreja” é por “manter as duas vidas”.

Atuação governamental

Dom Ricardo Hoepers observou que há uma ausência de projetos governamentais claros para casos como este, tanto nas Secretarias Municipais e Estaduais, como no Ministério da Saúde. De acordo com ele, “hoje, o poder público está oferecendo como única opção o aborto”.

“É esta sociedade que nós queremos construir? Uma sociedade que mata suas crianças? Essa pergunta que eu faço a toda essa normalidade de que semanalmente existem essas questões. O problema de nós nos acostumarmos com esse discurso. Amanhã vamos estar nos acostumando com o discurso de que os nossos idosos estão sendo mortos por eutanásia porque isso é normal. A normalidade vai se normatizando em torno daquilo que nós estamos impondo para a nossa sociedade como única solução”, disse.

Nesse sentido, o Bispo revelou que pretende propor que a Defensoria Pública da União tenha um grupo de trabalho específico para a proteção do nascituro e para a proteção da família. Considerou que “está mais do que na hora de nós também olharmos para este início de vida e dar a salvaguarda necessária, a tutela do Estado sobre a vida do nascituro, porque esta normalidade de achar que o aborto se tornou a solução do nosso problema, é, no mínimo, irracional”.

“Nós estamos assinando um termo de incompetência. Como nós não conseguimos resolver as questões de proteção da vida, então optamos pela morte”, lamentou.

Fonte: ACI digital

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