Andressa Collet – Vatican News
O Barco-Hospital Papa Francisco já está novamente desbravando as águas do Rio Amazonas e chegando até as comunidades ribeirinhas do oeste do Pará. Ele deixou de operar por um período, mas, há um mês, principalmente pelo apoio financeiro do Pontífice, está de volta às expedições para entregar cestas básicas e kits de higiene às famílias isoladas por causa da crise do coronavírus.
O retorno às expedições
O hospital fluvial precisou suspender as operações já no início da pandemia por causa dos bloqueios impostos nos portos. A medida de segurança era para o controle da proliferação do vírus ao interromper a movimentação de pessoas entre os municípios. Dom Bernardo Bahlmann, bispo de Óbidos, explica, porém, que precisaram reativar o serviço de atendimento às famílias isoladas no interior, contando com o auxílio emergencial de médicos provenientes do Hospital Universitário São Francisco de Bragança Paulista/SP:
“Nós retomamos porque percebemos que no interior onde o vírus ainda não chegou, tinha muita gente com problema de saúde porque não podia vir para cidades. Primeiro porque não era permitido, digamos assim, a orientação sempre foi de ficar em casa; então as pessoas começaram a ter necessidade porque tem pessoas que estão doentes, são diabéticos, tem problema de coração; já estavam sem remédio e os alimentos têm cada vez menos. A partir disso, pensamos que o barco poderia retomar as suas atividades aqui no município. Tudo isso foi feito em concordância com a Vigilância Sanitária e a Secretaria de Saúde. O barco, então, foi para algumas localidades aqui do próprio município de Óbidos e constatamos que, felizmente, não tinha o vírus Covid-19.”
A apoio concreto do Papa Francisco
Além do atendimento realizado pela equipe de saúde, as famílias receberam as doações em nome do Papa Francisco, isto é, cestas básicas e kits de higiene, “porque muitos já estão até passando fome”, conta dom Bernardo. Os recursos no valor de 10 mil reais estão sendo articulados pela diocese de Óbidos, no oeste do Pará, também a base do hospital fluvial. O bispo acrescenta que outros auxílios financeiros, da própria Igreja e da iniciativa privada, estão sendo revertidos em cestas básicas pra ajudar os ribeirinhos – os mais afetados pela pandemia.
O contato com comunidades onde circula o vírus
Nestas últimas semanas, os médicos e agentes de saúde não trabalharam diretamente com pessoas infectadas com a Covid-19, mas o dom Bernardo antecipa que, a partir desta segunda-feira (8), a realidade pode mudar. Isso porque o barco-hospital vai visitar as comunidades de Juruti e Juruti Velho, cidades próximas a Parintins, no Amazonas, onde se sabe que o vírus já está circulando com pessoas testadas positivas ao coronavírus.
Segundo o bispo, essa contaminação que tanto preocupa o país, pelo alto número de infectados, é resultado da movimentação das pessoas de um lugar para outro, principalmente até Manaus, e de maneira clandestina, porque a divisa entre os dois estados está fechada:
“Tem muita gente ainda morando, tem muitos familiares também que vivem lá e são daqui. Agora, com o coronavírus, também tem muita gente que veio embora de lá, às vezes até meio fugido. Muitas vezes agora vêm até clandestinamente pra cá porque, a princípio, a divisa entre os dois estados - Amazonas e Pará - está fechada. Mas é muito difícil de fechar porque tem muitos riozinhos, assim, as pessoas vão muitas vezes de Manaus até Parintins, pega uma embarcação menor e vem então com bajara, com rabeta, com voadeira, meio escondido e aí vão para vilas mais próximas das cidades e, de lá, vem embora de novo por sua vez até a cidade. Então, muita gente também veio assim até Óbidos, até Juruti e etc, e teve um aumento muito grande. Em Óbidos, o prefeito fechou o porto e temos um menor índice de infectados, enquanto que a situação mais grave está em cidades maiores."
A visita aos indígenas da Missão Tiriyó
Outra preocupação será quando o hospital fluvial for visitar as comunidades indígenas. Dom Bernardo conta que já estão planejando como atender as aldeias da Missão Tiryó, a 500 Km ao norte da diocese de Óbidos, na fronteira com o Suriname. Entre o grupo de cerca de 1.300 indígenas que moram na parte brasileira e outros mil do lado estrangeiro, “o vírus também chegou e está se espalhando, com vários casos já registrados, infelizmente”, afirma o bispo.
As expedições do hospital fluvial
Os números da embarcação hospitalar neste primeiro ano de atividades
Em períodos normais e sem pandemia, o Barco-Hospital Papa Francisco faz de 2 a 3 expedições por mês, de uma semana a 10 dias, para visitar as comunidades das cidades e do interior, e não só da região de Óbidos. A embarcação hospitalar, dotada de equipamentos para fazer principalmente exames básicos de saúde, atende cerca de mil comunidades ribeirinhas de 12 municípios do Pará ao longo do Rio Amazonas: desde Juruti, na divisa com o Amazonas, até próximo a Belém.
Desde agosto de 2019, antes das doze expedições oficiais, até o último dia 27 de maio, o hospital fluvial já fez um total de 43.094 atendimentos. Assim, o atendimento básico de saúde e espiritual chega a cerca de 700 mil pessoas ao longo do Rio Amazonas graças ao barco-hospital inspirado pelo próprio Papa Francisco.
08 junho 2020
Fonte: Vatican News
Comentários
Postar um comentário