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Por que o Papa Francisco mudou o “Pai-Nosso” em italiano, mas não em português

James Tissot | Brooklyn Museum | 
Public Domain

Redação da Aleteia | Fev 10, 2020

A mudança foi apenas em uma frase, mas, tratando-se da oração fundamental do cristianismo, qualquer alteração tem repercussão gigantesca

Chegará a todas as paróquias da Itália até o dia 29 de novembro deste ano, primeiro domingo do Advento, a edição revista do Missal Romano em italiano: a nova edição conterá um Pai-Nosso ligeiramente diferente daquele a que os fiéis se acostumaram durante gerações.

A mudança foi proposta pelo cardeal Gualtiero Bassetti, presidente da Conferência Episcopal Italiana, e aprovada pelo Papa Francisco durante a 72ª Assembleia Geral dos bispos daquele país, em 22 de maio de 2019.

O que mudará

O trecho do Pai-Nosso que mudará em italiano é aquele que, em português, se traduz como “não nos deixeis cair em tentação“.

A redação atual em italiano diz “non ci indurre in tentazione” (que quer dizer “não nos induzais à tentação“). Ela será substituída por “non abbandonarci alla tentazione” (que quer dizer “não nos abandoneis à tentação“, uma construção muito próxima da que já é usada hoje em português).

O Papa Francisco já tinha comentado em outubro de 2017, durante entrevista ao canal italiano TV 2000, que a tradução vigente naquele idioma não era boa porque Deus não nos induz à tentação, mas apenas permite que nós a enfrentemos. Portanto, não é adequado pedir a Ele que “não nos induza à tentação”, já que Ele de fato não o faz, mas sim que “não nos deixe cair nela”, “não nos abandone a ela”, pois, neste caso, estamos na verdade pedindo a graça de ser firmes em nossa vontade de não ceder à tentação que Ele permite que enfrentemos porque respeita a liberdade com que nos criou.

Na ocasião, Francisco declarou ao apresentador do programa televisivo, o pe. Marco Pozza:

“Sou eu quem cai em tentação; não é Deus que me joga nela”.

Mudanças em outros idiomas

A versão brasileira do Pai-Nosso já respeita o sentido original da súplica: “não nos deixeis cair em tentação“. Em português e nos outros idiomas, a oração não sofrerá mudanças.

Isto não quer dizer, porém, que a Conferência Episcopal Italiana tenha sido a primeira a solicitar do Vaticano a aprovação para fazer uma mudança no missal de seu país.

Os bispos da França solicitaram em 2017 uma mudança no mesmo trecho do Pai-Nosso agora ajustado em italiano. O francês também passava a ideia de “não nos submetais à tentação” (“ne nous soumets pas à la tentation“). A frase foi substituída por “ne nous laisse pas entrer en tentation” (“não nos deixeis entrar em tentação“, muito próxima da que usamos em português).

“Vós” ou “Tu”?

A forma de dirigir-se a Deus na oração em francês também foi reajustada: em vez do plural majestático (“Vós”), passou-se a usar a segunda pessoa do singular (“Tu”).

Essa mesma mudança foi realizada em Portugal em 2019, com a opção dos bispos portugueses pelo “Tu” em vez do antigo “Vós”, ao passo que, no Brasil, optou-se por manter o “Vós” tradicional.

Outras línguas, como o espanhol, já usavam o “Tu”. O latim e o grego também empregavam o “Tu”, por não ser usual nessas línguas o plural majestático. O inglês também usa o “You”, que é a única versão possível no idioma atualmente.

Os bispos podem mudar as orações à vontade?

As conferências episcopais de cada país podem propor e conceder a aprovação preliminar a ajustes nos textos oficiais da Igreja em seus idiomas nacionais, mas todos os textos alterados precisam ser apresentados à revisão e aprovação definitiva do Vaticano, que o faz mediante a sua Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, presidida atualmente pelo cardeal Robert Sarah.

Falando grego

As antigas versões em francês e em italiano tinham sido escolhidas para traduzir a frase em latim “ne nos inducas in tentationem“. O verbo latino “inducere” (“levar rumo a”), por sua vez, reproduz a estrutura do verbo grego “eisféro” (“levar até, conduzir até”).

E foi justamente o verbo escolhido para a redação em grego o “responsável” pela versão inadequada em francês e em italiano: é que os Evangelhos, de fato, foram escritos em grego (porque esta era a língua franca da época e a proposta era que os Evangelhos fossem divulgados ao máximo possível de pessoas) – mas o grego não era a língua em que Jesus conversava no Seu cotidiano.

Ao registrarem por escrito a oração do Pai-Nosso, os evangelistas procuraram transmitir em grego aquilo que Jesus tinha dito em aramaico.

No idioma de Jesus, o verbo que Ele tinha usado possui o sentido de “permitir entrar“, “deixar entrar“: ou seja, queria dizer “não permitais que entremos na tentação“, “não nos deixeis cair em tentação“. Mas, na redação em grego, o verbo usado contém uma ideia de “fazer entrar“, “forçar a entrada“: ou seja, algo como “não nos façais entrar em tentação“, “não nos leveis até a tentação“, “não nos induzais à tentação” (como a versão anterior em italiano), “não nos submetais à tentação” (como a versão anterior em francês).

Acontece que, de fato, “não fazer entrar em tentação” é bastante diferente de “não deixar entrar em tentação“.

Deus não nos leva à tentação, mas a permite


A diferença é crucial. Todos os seres humanos podem sofrer a tentação: o próprio Jesus, aliás, foi tentado pelo diabo no deserto.

Deus o permite porque nos criou livres: se Ele não nos deixasse enfrentar a tentação, não teríamos a liberdade de rejeitá-la; ou seja, no fim das contas não seríamos de fato livres. Ser livre, afinal, é exercer a faculdade de escolher entre várias opções: inclusive entre o bem e o mal.

Por isso Deus deixa que sejamos tentados, mas não nos induz Ele próprio à tentação: Ele não nos força a escolhê-la, não a propõe forçosamente a nós.

Fonte: Aleteia

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