Vaticano, 09 Out. 19 / 04:30 pm (ACI).- A igreja romana de Santa Maria em Traspontina, localizada na Via della Conciliazione, a poucos metros do Vaticano, acolhe diariamente, de 4 a 27 de outubro, um evento de claro caráter sincrético, no qual se mesclam tradições indígenas da Amazônia com referências cristãs.
O evento, chamado "Momentos de Espiritualidade Amazônica" é organizado por "Amazônia Casa Comum", um espaço da Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), estabelecido de forma temporária nesta paróquia, confiada aos Carmelitas, no contexto do Sínodo da Amazônia, que acontece no Vaticano até 27 de outubro.
Entre os participantes do evento na igreja de Santa Maria em Traspontina, havia várias religiosas católicas, uma sacerdotisa anglicana, vários frades franciscanos, leigos e indígenas da Amazônia.
O evento da REPAM começou com uma mulher que chamou os participantes para formarem um círculo em torno dos objetos depositados no chão. Cada um dos participantes carregava na mão um objeto como os já descritos. Pediu que todos dessem os braços e iniciou uma série de cânticos e discursos nos quais se misturavam referências à natureza, à criação, expressões como "todos somos um", com mensagens cristãs como "fomos criados à imagem e semelhança de Deus", e algumas leituras bíblicas.
A direção do evento ia passando de uma pessoa para outra. Em um momento, os participantes depositaram seus objetos no pano como oferendas. Em seguida, os indígenas colocaram terra da Amazônia no cesto de palha.
Em seguida, todos tiraram os sapatos, ajoelharam-se e se inclinaram, tocando o chão com a cabeça. Um dos indígenas se aproximou do cesto com a terra, pegou em suas mãos parte da terra e a elevou para o alto dizendo algumas palavras em voz baixa.
Ao perguntar sobre o significado do ato para alguns dos participantes, estes explicaram que os objetos simbolizavam os dons de Deus. À pergunta sobre se era uma cerimônia cristã ou amazônica, eles responderam que as duas coisas são iguais.
O ato de 9 de outubro começou no átrio da igreja com alguns cantos e, em seguida, os participantes caminharam dentro do templo onde continuou o ritual, no qual se destacou a participação de Dom Raúl Vera, Bispo de Saltillo (México), conhecido por promover o estilo de vida homossexual e apoiar o lobby LGBT.
Uma vez dentro do templo e em frente ao altar do Santíssimo Sacramento, alguns dos participantes levantaram uma canoa na qual uma jovem estava sentada.
Como no dia anterior, nesta área havia vários elementos da Amazônia, como a imagem de "Nossa Senhora da Amazônia", descrita assim por Vatican News em português.
Alguns participantes indicaram que o ritual varia ao longo dos dias, a fim de mostrar como é a “espiritualidade amazônica”.
Em várias capelas da igreja, os responsáveis de “Amazônia Casa Comum”, iniciativa da REPAM, estabeleceram exposições sobre os chamados mártires amazônicos. No chão das capelas, colocaram outros objetos, fotos e imagens relacionadas à Amazônia e aos problemas da região.
Em uma delas, também pode ser visto um cartaz no qual querem representar as palavras do Papa Francisco na encíclica Laudato Si’: “Tudo está conectado”.
Para isso, utilizam a fotografia de uma mulher indígena que, com um braço segura seu filho e, com o outro, amamenta um leitão. Ao seu redor, uma seta direciona o olhar para a fotografia do filho com as palavras "outro-eu".
A iniciativa "Amazônia Casa Comum", realizada na igreja de Santa Maria em Traspontina, contrasta com as palavras pronunciadas em 17 de junho pelo Cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, durante a apresentação do Instrumentum laboris do Sínodo.
Na ocasião, o Cardeal rejeitou que o Sínodo da Amazônia possa abrir alguma possibilidade de uma igreja sincrética na Amazônia, na qual se possa dar lugar a sensibilidades filosóficas ou religiosas de origem pagã.
Em um texto enviado à ACI Digital, Dom José Luis Azcona, bispo emérito de Marajó, no Delta do Amazonas no Brasil, explicou que a iniciativa "Amazônia Casa Comum" pode ser "um ponto de escândalo para toda a Igreja, desde Roma e com ocasião do Sínodo”.
"Algumas perguntas pertinentes diante da Tenda são legítimas e justificadas. Como por exemplo, nesses rituais de aldeias, que logicamente devem ser variados, que tipo de espíritos vão ser invocados? Porque estes devem ser variados, podem pertencer aos espíritos da feitiçaria incompatíveis com o evangelho e no mesmo nível que o pecado de idolatria, segundo Paulo”.
"Ou os que levantam a Tenda não creem verdadeiramente que Cristo derrotou todas essas forças pela sua obra redentora e que Exaltado sobre todos eles, mantém para sempre e de modo absoluto sua soberania de Senhor?”, perguntou-se.
“Amazônia Casa Comum” é promovida pela Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM) junto com outras organizações. Além dos "Momentos de espiritualidade amazônica" na igreja de Santa Maria em Traspontina, outros eventos, como conferências e exposições, foram agendados em diferentes locais em Roma e em outras cidades da Itália por ocasião do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia.
Fonte: ACI digital
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