Pe. Fábio de Melo é execrado por questionar “saidinha” de Nardoni no dia dos pais


Padre Fábio de Melo (Divulgação)

Aleteia Brasil | Ago 12, 2019

O sacerdote foi alvo da ira de "justiceiros virtuais" ao declarar que “a saidinha deveria ser permitida só no dia de finados, para que visitassem os túmulos dos que eles mataram”

A legislação brasileira permite a popularmente chamada “saidinha” de criminosos da prisão por ocasiões especiais como, entre outras, o dia das mães e o dia dos pais. A medida, que por si só já levanta controvérsias entre a população, se torna particularmente polêmica nessas duas datas quando os beneficiados por ela são pessoas condenadas por terem matado precisamente os próprios genitores ou filhos.

Neste dia dos pais, um dos beneficiados pela “saidinha” foi Alexandre Nardoni, condenado pelo assassinato da própria filha, Isabella, de 5 anos de idade. Nardoni jogou a menina pela janela de seu apartamento no sexto andar de um edifício em São Paulo, num caso que estarreceu e comoveu profundamente o Brasil em 2008.

pe. Fábio de Melo, um dos sacerdotes mais conhecidos do país, publicou a respeito o seguinte comentário em seu perfil no Twitter:

“A saidinha deveria ser permitida somente no dia de finados. Para que visitassem os túmulos dos que eles mataram”.

Justiceiros virtuais

Foi o bastante para que os assim chamados “justiceiros virtuais” atacassem o padre, apelando, como de costume, para um contraditório discurso de “amor ao próximo”. É sempre curioso observar que, em nome de um suposto “amor”, os justiceiros virtuais não hesitam em destilar ódio, ataques pessoais e até ameaças de violência física.

Aliás, o próprio padre foi por eles tachado de “justiceiro”, além de “desonesto, desinformado e canalha”.

Discussão tergiversada

Entre os que se declararam contrários à opinião do padre esteve a professora universitária e militante pró-aborto Débora Diniz, que escreveu que “as saidinhas são parte de um calendário de retorno à vida social. A prisão não é lugar eterno”.

O comentário, que tem formas ponderadas, é, no entanto, uma tergiversação da crítica do padre, que em momento algum questionou a reinserção social e muito menos o perdão. Ele próprio deixa claro:

“Já atuei na pastoral carcerária. Sei sobre a necessidade da ressocialização dos presos. Eu apenas salientei sobre a Justiça não ser capaz de preservar, para os que sofrem suas perdas, o simbolismo das datas, libertando os responsáveis pelas mortes de seus entes queridos. Só isso”.

A tergiversação do assunto, aliás, desperta outras discussões paralelas bastante relevantes: não será o caso de se analisar mais a fundo quais são os embasamentos de uma ideologia que considera “direito” exterminar bebês em gestação, ao passo que problematiza o direito da sociedade a questionar um indulto pontual concedido em pleno dia dos pais a um homem que assassinou a própria filha de 5 anos?

O enviesamento ideológico não é novidade alguma nos supostos “debates” sobre “direitos”. A mesma Débora Diniz teve sua postura questionada em 2016 pelo pe. Silvio Roberto, diretor da Casa Pró-Vida Mãe Imaculada, por conta de uma entrevista que ela deu ao programa Fantástico, da Rede Globo. A atração televisiva levou ao público, na ocasião, uma reportagem unilateral sobre o aborto e sua suposta realidade no Brasil.

Era da problematização

O nome do pe. Fábio chegou a figurar entre os assuntos mais comentados da rede social, entre postagens que o apoiavam e outras que o execravam “em nome do amor”. Mas o sacerdote passou longe de se intimidar com a grita dos “odiadores” que se consideram “do bem” e que pregam seu “amor ao próximo” atacando os outros. Pe. Fábio resumiu:

“É o grupinho da discordância, resultado nefasto da era da problematização. Sabem perfeitamente que a indignação pública é um fato. Não estamos questionando o que a lei permite. Estamos indignados é com o que a lei permite”.

O padre resolveu abandonar o Twitter após as manifestações de “amor ao próximo” dos justiceiros virtuais:

“Meus queridos, vou ficando por aqui. Tenho uma saúde emocional a ser cuidada. Sei o quanto já provei a solidão provocada pela depressão, pelo pânico. Tomar remédios só faz sentido quando evitamos os gatilhos dos desconfortos. Este lugar deixou de ser saudável pra mim. Obrigado!

Desde ontem, quando expressei minha indignação sobre a ‘saidinha’, estou sendo acusado de justiceiro, desonesto, desinformado, canalha e outros nomes impublicáveis. Só reitero. Já atuei na pastoral carcerária. Sei sobre a necessidade da ressocialização dos presos. Eu apenas salientei sobre a justiça não ser capaz de preservar, para os que sofrem suas perdas, o simbolismo das datas, libertando os responsáveis pelas mortes de seus entes queridos. Só isso”.

Fonte: Aleteia

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