Jane Nogara - Cidade do Vaticano
Na manhã de 4 de dezembro de 1963, ao final da segunda sessão conciliar, Paulo VI anunciou a sua vontade de viajar à Terra Santa em janeiro do ano seguinte. O anúncio supreendeu os padres conciliares: “Estamos convencidos de que para obter um bom resultado do Concílio, devemos elevar pias súplicas, multiplicar as obras e, após maduras reflexões e muitas orações dirigidas a Deus, decidimos nos dirigir como peregrinos àquela terra, pátria do Senhor nosso Jesus Cristo... com a intenção de reevocar, pessoalmente, os principais mistérios de nossa salvação, ou seja, a encarnação e a redenção”. Pela primeira vez na história da Igreja, um Papa cruzaria os confins europeus subindo em um avião.
Viagem de natureza espiritual
O historiador jesuíta Giovanni Sale em 17 de maio de 2014 recordou na revista La Civiltà Cattolica que “a peregrinação de Paulo VI queria ser apenas de natureza espiritual, como afirmado várias vezes pelo Papa: “Será uma viagem de oração e de humildade, um ato puramente religioso, absolutamente alheio a todo tipo de considerações políticas e temporais”. Padre Sale destaca os vários preparativos da viagem papal, colocando em evidência como a Santa Sé procurou de todas as formas evitar qualquer possível instrumentalização política.
É preciso recordar que na época a Terra Santa era dividida entre Israel e Jordânia. Depois da sua etapa em Amã, onde foi recebido e acompanhado pelo rei Houssein durante toda a sua permanência no país, o Papa foi até Jerusalém de carro. No caminho fez uma parada no Jordão, lugar onde segundo a tradição Jesus foi batizado.
A inesquecível chegada em Jerusalém
Seu secretário particular na época Pasquale Macchi, deu um significativo depoimento à revista italiana 30Giorni em fevereiro de 2000 sobre a chegada do Papa: “Não posso esquecer o impacto com a multidão que o esperava junto à Porta de Damasco, que já tinha invadido os espaços reservados às autoridades: o carro do Papa balançou como um barco e com dificuldade o Papa conseguiu atravessar a porta de Damasco. O seu trajeto na Via Dolorosa foi dramático: parecia que o Papa estava afundando na multidão, na realidade ele estava sereno e feliz de poder subir o Calvário na mais profunda união com Jesus”.
Em Nazaré lições do Evangelho
Em Nazaré – continua o então secretário de Paulo VI - ao visitar o lugar da Anunciação, pediu à Maria Santíssima, para ser introduzido “na intimidade com Cristo, seu humano e divino Filho Jesus”.
“ Ali retomou as grandes lições do Evangelho: lição do silêncio, da vida familiar, do trabalho para depois oferecer quase uma transcrição moderna das Bem-aventuranças ensinadas por Jesus ”
Encontro com Atenágoras I
Pasquale Macchi descreve também com muito sentimento o encontro de Paulo VI com Atenágoras: “O Patriarca de Constantinopla veio a Jerusalém especialmente para encontrar Paulo VI. O primeiro afetuoso abraço deu-se na noite de 5 de janeiro na residência da delegação apostólica: os gestos, as palavras, o Pai Nosso recitado nas duas línguas – latina e grega – o afeto e a estima que transpareciam com tanta sinceridade, davam a entender que alguma coisa grande e única estava acontecendo”.
Etapas marcantes
Monsenhor Pasquale Macchi segue descrevendo outros tocantes momentos da visita: “Muitas outras etapas levaram a lugares cheios de memória e de mistério: o beijo na terra ensanguentada no Getsêmani, a oração de joelhos no chão do Cenáculo, o beijo na pedra às margens do Lago onde Jesus confiou sua Igreja à Pedro, a subida no Monte Tabor na doce luz do crepúsculo, foram experiências que marcaram o coração do Papa e deixaram uma viva recordação em todos nós”.
O retorno a Roma do Papa Paulo VI, na noite do 6 de janeiro, foi triunfal: inesperadamente ele foi recebido com grande entusiasmo pelos romanos, que tinham acompanhado os momentos mais importantes da sua viagem pela televisão. Acompanharam-no durante todo o percurso até o Vaticano. No final ele teve que assomar à sua janela para abençoar a multidão que se reunira na praça.
Fonte: Vatican News
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