A Solenidade de Corpus Christi



Redação (Quarta-feira, 14-06-2017, Gaudium Press) - Corria o ano de 1264. O Papa Urbano IV mandara convocar uma seleta assembleia que reunia os mais famosos mestres de Teologia daquele tempo. Entre eles encontravam-se dois varões conhecidos não só pelo brilho da inteligência e pureza da doutrina, mas, sobretudo, pela heroicidade de suas virtudes: São Tomás de Aquino e São Boaventura.

A razão da convocatória relacionava- se com uma recente bula Pontifícia instituindo uma festa anual em honra do Santíssimo Corpo de Cristo.

Para o máximo esplendor desta comemoração, desejava Urbano IV que fosse composto um Ofício, bem como o próprio da Missa a ser cantada naquela solenidade. Assim, solicitou de cada um daqueles doutos personagens uma composição a ser-lhe apresentada dentro de alguns dias, a fim de ser escolhida a melhor.

Célebre tornou-se o episódio ocorrido durante a sessão.

O primeiro a expor foi Frei Tomás. Serena e calmamente, desenrolou um pergaminho e os circunstantes ouviram a declamação pausada da Sequência por ele composta:

Lauda Sion Salvatorem, lauda ducem et pastorem in hymnis et canticis (Louva, Sião, o Salvador, o teu guia, o teu pastor com hinos e cânticos)... Maravilhamento geral!

Frei Tomás concluiu: ...tuos ibi commensales, cohæredes et sodales, fac sanctorum civium (admiti-nos no Céu, à Vossa mesa, e fazei-nos coerdeiros na companhia dos que habitam a Cidade Santa).

Frei Boaventura, digno filho do Poverello, rasgou sem vacilações sua composição, e os demais o imitaram, rendendo tributo ao gênio e à piedade do Aquinate. A posteridade não conheceu as demais obras, sem dúvida sublimes também, mas imortalizou o gesto de seus autores, verdadeiro monumento de humildade e despretensão.

Origem da festa de "Corpus Christi"

Vários motivos haviam conduzido a Sé Apostólica a dar esse novo impulso à piedade eucarística, estendendo a toda a Igreja uma devoção que já se praticava em certas regiões da Bélgica, Alemanha e Polônia.

O primeiro deles remonta à época em que Urbano IV, então membro do clero de Liège, na Bélgica, analisou de perto o conteúdo das revelações com as quais o Senhor Se dignara favorecer uma jovem religiosa do mosteiro agostiniano de Mont Cornillon, próximo a essa cidade.

Em 1208, quando contava apenas 16 anos, Juliana fora objeto de uma singular visão: um refulgente disco branco, semelhante à lua cheia, tendo um dos seus lados obscurecido por uma mancha.

Após alguns anos de intensa oração, fora-lhe revelado o significado daquela luminosa "lua incompleta": ela simbolizava a Liturgia da Igreja, à qual faltava uma solenidade em louvor ao Santíssimo Sacramento. Santa Juliana de Mont Cornillon fora por Deus escolhida para comunicar ao mundo esse desejo celeste. Mais de vinte anos se passaram até que a piedosa monja, dominando a repugnância proveniente de sua profunda humildade, se decidisse a cumprir sua missão, relatando a mensagem que recebera.

A pedido seu, foram consultados vários teólogos, entre os quais o padre Jacques Pantaléon - futuro Bispo de Verdun e Patriarca de Jerusalém - e este mostrou-se entusiasta das revelações de Juliana. Transcorridas algumas décadas, e já após a morte da santa vidente, quis a Divina Providência que ele fosse elevado ao Sólio Pontifício, em 1261, tomando o nome de Urbano IV.

Encontrava-se esse Papa em Orvieto, no verão de 1264, quando chegou a notícia de que, a pouca distância dali, na cidade de Bolsena, durante uma Missa na Igreja de Santa Cristina, o celebrante - que passava por provações quanto à presença real de Cristo na Eucaristia - vira transformar- se em suas próprias mãos a Sagrada Hóstia em um pedaço de carne, que derramava abundante sangue sobre os corporais.

A notícia do milagre espalhou-se rapidamente pela região. Informado de todos os detalhes, o Papa mandou trazer as relíquias para Orvieto, com a reverência e a solenidade devidas.

E ele mesmo, acompanhado de numerosos Cardeais e Bispos, saiu ao encontro da procissão formada para conduzi-las à catedral. Pouco depois, em 11 de agosto do mesmo ano, Urbano IV emitia a bula Transiturus de hoc mundo, pela qual determinava a solene celebração da festa de Corpus Christi em toda a Igreja.

Uma afirmação contida no texto do documento deixava entrever ainda um terceiro motivo que contribuíra para a promulgação da mencionada festa no calendário litúrgico:

"Ainda que renovemos todos os dias na Missa a memória da instituição desse Sacramento, estimamos todavia, conveniente que seja celebrada mais solenemente pelo menos uma vez ao ano para confundir particularmente os hereges; pois, na Quinta-Feira Santa a Igreja ocupa-se com a reconciliação dos penitentes, a consagração do santo crisma, o lava-pés e muitas outras funções que lhe impedem de voltar-se plenamente à veneração desse mistério".

Assim, a solenidade do Santíssimo Corpo de Cristo nascia também para contrapor a perniciosa influência de certas ideias heréticas que se alastravam entre o povo, em detrimento da verdadeira Fé.

Já no século XI, Berengário de Tours se opusera abertamente ao Mistério do Altar, negando a transubstanciação e a presença real de Jesus Cristo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade nas sagradas espécies. Segundo ele, a Eucaristia não passava de um pão bento, dotado de um simbolismo especial.

E em inícios do século XII, o heresiarca Tanquelmo espalhara seus erros em Flandres, principalmente na cidade de Antuérpia, afirmando que os Sacramentos, e sobretudo, a Santíssima Eucaristia, não possuíam valor algum.

Embora todas essas falsas doutrinas já estivessem condenadas pela Igreja, algo de seus ecos nefandos ainda se faziam sentir pela Europa cristã.

Assim, Urbano IV não julgou supérfluo censurá-las publicamente, de modo a tirar-lhes todo prestígio e penetração.

A Eucaristia passa a ser o centro da vida cristã

A partir desse momento, a devoção eucarística desabrochou com maior vigor entre os fiéis: os hinos e antífonas compostos por São Tomás de Aquino para a ocasião - entre os quais o Lauda Sion, verdadeiro compêndio da teologia do Santíssimo Sacramento, chamado por alguns o credo da Eucaristia - passaram a ocupar lugar de destaque dentro do tesouro litúrgico da Igreja.

No transcurso dos séculos, sob o sopro do Espírito Santo, a piedade popular e a sabedoria do Magistério infalível aliaram-se na constituição dos costumes, usos, privilégios e honras que hoje acompanham o Serviço do Altar, formando uma rica tradição eucarística.

Ainda no século XIII, surgiram as grandes procissões conduzindo o Santíssimo Sacramento pelas ruas, primeiro dentro de uma ambula coberta, e mais tarde exposto no ostensório.

Também neste ponto o fervor e o senso artístico das várias nações esmeraram-se na elaboração de custódias que rivalizavam em beleza e esplendor, na confecção de ornamentos apropriados e na colocação de imensos tapetes florais ao longo do caminho a ser percorrido pelo cortejo.

Os Papas Martinho V (1417-1431) e Eugênio IV (1431-1447) concederam generosas indulgências a quem participasse das procissões. Mais tarde, o Concílio de Trento - no seu Decreto sobre a Eucaristia, de 1551 - sublinharia o valor dessas demonstrações de Fé:

"O santo Sínodo declara que é piedoso e religioso o costume, introduzido na Igreja de Deus, de celebrar todos os anos com singular veneração e solenidade, em dia festivo e peculiar, este excelso e venerável Sacramento, levando-O em procissões por vias e locais públicos com reverência e honra".

O amor eucarístico do povo fiel não se restringiu, porém, a manifestações externas; pelo contrário, elas eram a expressão de um sentimento profundo posto pelo Espírito Santo nas almas, no sentido de valorizar o precioso dom da presença sacramental de Jesus entre os homens, conforme Suas próprias palavras:
"Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20).

O mistério de amor de um Deus que não só Se fez semelhante a nós para resgatar-nos da morte do pecado, mas quis, num extremo de ternura, permanecer entre os Seus, ouvindo seus pedidos e fortalecendo-os em suas tribulações, passou a ser o centro da vida cristã, o alimento dos fortes, a paixão dos santos.

São Pedro Julião Eymard, ardoroso devoto e apóstolo da Eucaristia, exprimiu em termos cheios de unção esta celestial "loucura" do Salvador ao permanecer como Sacramento de vida para nós: "Compreende-se que o Filho de Deus, levado por Seu amor ao homem, tenha-Se feito homem como ele, pois era natural que o Criador tivesse interesse na reparação da obra saída de Suas mãos. Que, por um excesso de amor, o Homem-Deus morresse sobre a Cruz, compreende-se também. Mas o que já não se compreende, aquilo que espanta os débeis na Fé e escandaliza os incrédulos, é que Jesus Cristo glorioso e triunfante, depois de ter terminado Sua missão na terra, queira ainda permanecer conosco, num estado mais humilhante e aniquilado do que em Belém e no Calvário".

"Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa"


A Eucaristia é o maior e o mais sublime de todos os Sacramentos. Embora o Batismo, sob certo ponto de vista, mereça o primeiro lugar por nos introduzir na vida divina, tornando-nos filhos de Deus e participantes de Sua natureza, a Eucaristia supera-o quanto à substância, pois tratasse do verdadeiro Corpo, Sangue Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O próprio momento e as circunstâncias solenes em que foi instituído indicam sua importância e a veneração que Cristo queria infundir nas almas de seus discípulos por este admirável Sacramento. Para isto reservou Ele as últimas horas que Lhe restavam de convívio com os Apóstolos antes de caminhar para a morte, pois "as últimas ações e palavras que fazem e dizem os amigos no momento de se separar, gravam-se mais profundamente na memória e imprimem-se mais fortemente na alma".

Naqueles instantes - poder-se-ia afirmar - Seu adorável Coração pulsava com santa pressa de realizar, no tempo, aquilo que desde toda a eternidade contemplara em Sua ciência divina.

Suas palavras "desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer" (Lc 22, 15), deixam transparecer claramente os inefáveis anseios de amor do Deus Encarnado por todos os homens, a "multidão de irmãos" (Rm 8, 29), pelos quais iria oferecer-Se naquela mesma noite.

O desejo do Divino Mestre era de que o mistério de Seu Corpo e Sangue se perpetuasse pelos séculos futuros: "Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22, 19). Entretanto, devemos considerar que já bem antes da Encarnação havia a Divina Providência multiplicado os símbolos e as figuras que permitiriam aos homens melhor compreender e amar este Sacramento.

A este respeito, diz São Tomás de Aquino: "Este Sacramento é especialmente um memorial da Paixão de Cristo; e convinha que a Paixão de Cristo, pela qual Ele nos redimiu, fosse prefigurada para que a Fé dos antigos se encaminhasse ao Redentor".

Melquisedec: Símbolo e prenúncio do Supremo Sacerdote

Um dos sinais mais remotos da Eucaristia aparece no capítulo 14 do Gênesis, naquele personagem fascinante e misterioso que saiu ao encontro de Abraão quando este voltava de sua vitória contra os reis, e o abençoou, oferecendo pão e vinho. Melquisedec, "rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo" (Gn 14, 18), reunia em si as glórias da realeza, a santidade sacerdotal e o carisma profético.

Ele é bem o símbolo d'Aquele que mais tarde proclamaria diante de Pilatos: "Eu sou Rei" (Jo 18, 37) e a propósito do qual todos comentavam: "um grande profeta surgiu entre nós" (Lc 7, 16).

Mas naquilo em que Melquisedec mostrou-se mais plenamente imagem de Cristo, foi na posse de um sacerdócio superior ao de Aarão, como está escrito na Carta aos Hebreus: "Se a perfeição tivesse sido realizada pelo sacerdócio levítico, [...] que necessidade havia ainda de que surgisse outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão?

Isto se torna ainda mais evidente se se tem em conta que este outro sacerdote, que surge à semelhança de Melquisedec, foi constituído não por prescrição de uma lei humana, mas pela sua imortalidade. Porque está escrito: ‘Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedec'" (Hb 7, 11. 15-17).

Jesus Cristo, porém, ao descer à terra, não mais oferece pão e vinho, como outrora Melquisedec, mas sim a oblação pura de Seu Corpo e Sangue: "Não Vos comprazeis em nenhum sacrifício, em nenhuma oferenda, mas formastes-Me um corpo: não desejais holocausto nem vítima de expiação. Então Eu disse: ‘Eis que venho'" (Sl 39, 7-8). Assim Ele levou à plenitude aquilo que Melquisedec apenas prenunciara.

O Cordeiro entregue à morte pelos pecados do povo

No Livro do Êxodo abundam as figuras que nos aproximam da Eucaristia.

Encontramo-las, sobretudo, na ceia pascal, prescrita em suas minúcias pelo próprio Deus a Moisés, na qual deveriam os israelitas imolar um cordeiro sem defeito e comê-lo com pães ázimos ao cair da tarde.

A este respeito, ensina o Doutor Angélico:
"Neste Sacramento podemos considerar três aspectos: o que é o sinal sacramental, ou seja, o pão e o vinho; o que é realidade e sinal sacramental, ou seja, o verdadeiro Corpo de Cristo; e o que é só realidade, a saber, o efeito deste Sacramento. [...]
O cordeiro pascal prefigurava este Sacramento sob os três aspectos. Quanto ao primeiro, porque era comido com pães ázimos, conforme a prescrição: ‘Comerão a carne com pães sem fermento'. Quanto ao segundo, porque era imolado no décimo quarto dia do mês por toda a multidão dos filhos de Israel: nisto era figura da Paixão de Cristo que por Sua inocência é chamado de cordeiro.
Quanto ao efeito, porque pelo sangue do cordeiro pascal os filhos de Israel foram protegidos do anjo devastador e libertos da escravidão do Egito".

O pão sem fermento, com o qual deviam os judeus comer a carne do cordeiro, representava também a integridade do Corpo de Cristo, concebido no seio puríssimo de Maria, sem mancha alguma de pecado, e que, após a morte, não experimentou a corrupção do sepulcro, como anunciara Davi:
"Não permitireis que Vosso Santo conheça a corrupção" (Sl 15, 10).


Por isso o Salvador escolheu a noite da Páscoa, principal das festas judaicas, para deixar à humanidade Seu legado de amor, dando a entender que Ele mesmo é o Cordeiro imaculado, entregue à morte para tirar os pecados do mundo, por cujo sangue seria afastada a sentença de condenação que sobre nós pesava desde a queda de Adão e Eva.

Aquela oferenda que os israelitas, reunidos em Jerusalém, imolavam sob as sombras de uma figura profética, o Senhor, rodeado de um punhado de discípulos, levava à perfeição, no exíguo ambiente do Cenáculo.

Entretanto, aquilo que as circunstâncias obrigavam Jesus a realizar na escuridão, os Apóstolos deveriam, no momento propício, dizer às claras e publicar de cima dos telhados (cf. Mt 10, 27), de maneira que o Sacrifício da Nova Aliança substituísse definitivamente os antigos sacrifícios e fosse celebrado diariamente sobre todos os altares da terra. Cumprir-se-ia assim a palavra do Espírito Santo pronunciada pela boca de Malaquias: "Do nascente ao poente, Meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se oferecem ao Meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras" (Ml 1, 11).

A respeito desta passagem profética, assim comenta Alastruey:
"Estes, são, pois, os caracteres do novo culto vaticinados por Malaquias: universalidade absoluta de tempos e lugares; pureza objetiva da vítima em si, incapaz de ser manchada por indignidade alguma do ofertante; excelência insigne, da qual resultará uma grande glorificação de Deus entre os povos".

Alimento que reparava as forças e dava vigor

Outra imagem de grande eloquência é a do maná, ao qual o próprio Jesus faz alusão no sermão sobre o Pão da Vida, referido no capítulo sexto de São João. Este alimento branco e miúdo como a geada (cf. Ex 16, 14), contendo em si todos os sabores (cf. Sb 16, 20), que nutriu o povo eleito durante a longa viagem pelo deserto, é símbolo também do Pão do Céu, penhor da ressurreição futura, que alimenta todo cristão, dando-lhe as graças e a fortaleza necessárias para atravessar o deserto desta vida e chegar à Terra Prometida, ou seja, à Pátria Celeste.

"O maná - comenta ainda São Pedro Julião Eymard - que Deus fazia cair cada manhã sobre o acampamento dos israelitas, continha todos os gostos e propriedades; reparava as forças decaídas, dava vigor ao corpo e era um pão muito suave. Também a Eucaristia, prefigurada no maná, contém todo gênero de virtudes; é remédio contra nossas enfermidades, força contra nossas fraquezas cotidianas, fonte de paz, de gozo e felicidade".

A mesa revestida de ouro


Encontramos por fim, ainda no Êxodo, mais uma prefigura desse divino Sacramento, na ordem dada por Deus a Moisés para fazer uma mesa de madeira revestida de ouro puro, onde seriam colocados permanentemente diante do Senhor os pães sagrados ou pães da proposição.

Aqueles pães, "porção santíssima" (Lv 24, 9) que só aos sacerdotes era permitido comer, exigiam a pureza ritual dos corpos (cf. I Sm 21, 4-5) e deviam ser consumidos "em lugar santo"(Lv 24, 9).

De nós, se queremos nos aproximar da mesa da Eucaristia, exige-se uma purificação muito superior àquela prescrita pela Lei mosaica: nossa alma - animada por uma reta intenção e com o firme propósito de enveredar pelas vias da perfeição - deve estar livre de pecado mortal.

De outro modo, esse inefável Sacramento será para nós causa de condenação:
"Todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação" (I Cor 11, 27-29).

Por outro lado, se os pães da proposição estavam reservados exclusivamente a Aarão e seus descendentes, Nosso Senhor Jesus Cristo, o verdadeiro Pão da proposição, oferece-Se em alimento a todos os fiéis, sem exceção, dando aos homens um privilégio do qual aos Anjos, por sua natureza, não é dado gozar. "Coisa admirável! Os pobres, os servos e os humildes comem o seu próprio Senhor" - canta-se no hino Sacris Solemnis, também composto por São Tomás de Aquino para a festa do Corpus.



A mesa de ouro sobre a qual se achavam os pães encerra outro simbolismo muito elevado: ela prefigura a Mãe de Deus, em cujo seio foi formado o Corpo de Jesus. Assim comenta o padre Jourdain: "Maria é a mesa mística magnificamente ornada e feita de madeira incorruptível, que Deus preparou para os que se comprazem na meditação das coisas divinas. Ela é a mesa santa e sagrada, portando o Pão da Vida, Jesus Cristo Nosso Senhor, o sustentáculo do mundo".

Muitos outros indícios do Sacramento da Eucaristia no Antigo Testamento poderiam ser mencionados: Abraão oferecendo seu filho Isaac em sacrifício (cf. Gn 22, 1-13); o pão cozido sob cinza, pelo qual Elias recobrou as forças para andar quarenta dias e quarenta noites até chegar ao Horeb, Monte de Deus (cf. I Rs 19, 5-8); a multiplicação dos pães operada pelo profeta Eliseu para alimentar cem pessoas (cf. II Rs 4, 42-44); etc.

Preparação próxima para a revelação da Eucaristia

Já no Novo Testamento encontramos três sinais insignes pelos quais o Salvador preparou as almas para o grande mistério cuja manifestação reservara para a véspera de Sua Paixão.

Primeiro, a transmutação da água em vinho, nas bodas de Caná da Galileia, cujo efeito nos é relatado por São João: "manifestou a Sua glória, e os Seus discípulos creram nEle" (Jo 2, 11).

Mais tarde, a multiplicação dos pães, pela qual Jesus saciou mais de cinco mil pessoas que O haviam seguido até o deserto (cf. Mt 14, 15- 21).

A este segundo milagre sucedeu-se outro, poucas horas depois: estando os discípulos na barca, em meio ao mar agitado, viram Jesus aproximar-Se deles caminhando sobre as águas (cf. Mt 14, 24-33).

Através desses prodígios, o Divino Mestre quis demonstrar o poder absoluto que possuía sobre o vinho e o pão, bem como sobre o Seu próprio Corpo.

Tão belos exemplos nos mostram como o Criador, enquanto divino Pedagogo, foi passo a passo preparando as mentalidades para a revelação do Sacramento da Eucaristia, eterno testemunho de Seu amor e de Seu desejo de permanecer entre nós.

Ajoelhemo-nos diante do Tabernáculo!

Quais devem ser nossa atitude e nossos sentimentos de alma ao considerarmos o extremo de bondade de Deus feito Homem que, tendo-Se encarnado, não abandonou a criatura resgatada por Seu Sangue, mas mantém-Se presente, assistindo e amparando todos os que d'Ele queiram se aproximar?

Ajoelhemo-nos diante do Tabernáculo ou, melhor ainda, diante do Ostensório, entreguemos a Jesus Sacramentado todo o nosso ser - nosso corpo com todos os seus membros e órgãos, nossa alma, com suas potências, suas qualidades e até as próprias misérias - e ofereçamos a Deus Pai o divino Sangue de Seu Filho, derramado na Cruz em reparação de nossas faltas.

De modo análogo aos raios do sol que, incidindo sobre o rosto, deixam-no corado e moreno, assim também, diante do Santíssimo Sacramento nossa alma recebe uma renovada infusão de graças, convidando-nos ao abandono total nas mãos de Jesus, por meio de Maria.

Assim, nossas almas irão se transformando rumo à santidade para a qual Deus nos chama. E se em algum momento, as dificuldades da vida nos fizerem sentir desânimo ou aridez, lembremo-nos destas tocantes palavras do padre Faber:

"Muitas vezes, quando o homem é tomado de desespero e assaltado por questões, dúvidas, desânimos e incertezas, em considerar a sua vida, e se sente cercado de inimigos, que lhe uivam ao redor, como feras furiosas, então um impulso, que é uma graça, o leva a ajoelhar-se ante o Santíssimo Sacramento e, sem que faça qualquer esforço, eis que todos aqueles clamores se afundam no silêncio. O Senhor está com ele: as vagas se aquietaram, a tempestade abateu-se e diretamente, sem embaraço, a viagem vai terminar no ponto procurado. Não foi necessário mais que olhar para a face de Jesus, e as nuvens se dissiparam e a luz se fez. O esplendor do Tabernáculo reaparece como o sol".

Por Irmã Clara Isabel Morazzani Arráiz, EP
(in "Revista Arautos do Evangelho", n. 90, p. 24 à 31)


Fonte: Gaudium Press

Comentários



Newsletter

Marcadores

Ano Jubilar Mariano10 Ano Santo92 Aparições113 Aparições de Jesus17 Aparições Marianas310 Aplicativos Android (católicos)15 Apostolado da Oração8 Arautos do Evangelho1 Arte Católica81 Baixada Santista2 Batalha Espiritual1 Beatificação125 Beatos e Beatas128 Bênçâo Urbi et Orbi17 Bíblia644 Blasfêmia54 Campanha da Fraternidade37 Campanhas122 Canção Nova8 Canonização93 Cardeais14 Cardeal Raniero Cantalamessa48 Cardeal Robert Sarah38 Catecismo410 Catequese do Papa268 Celebrações2364 Celebrações Marianas557 Círio de Nazaré26 Cisma1 CNBB489 Comportamento877 Conclave21 Confissão20 Conflitos1 Congresso Eucarístico12 Congresso Matrimônio Católico3 Congressos18 Consagração20 Consistório1 Contra Aborto206 Corpo Incorrupto58 Cristofobia244 Cruzada de Oração8 Datas Comemorativas195 Declaração Dignitas infinita (dignidade infinita)2 Defesa da Vida274 Dependência5 Depressão73 Desastres Naturais61 Devoção2617 Dia Mundial do Doente13 Dia Mundial dos Pobres1 Dilexi te “Eu te amei”1 Dilexit nos (Ele nos amou)2 Diocese de Santos69 Divina Misericórdia59 Divino Pai Eterno34 Doação de Órgãos2 Documentos da Igreja6 Dogmas da Igreja6 Dom Henrique Soares26 Doutor da Igreja26 Doutora da Igreja9 Doutrina662 Ecumenismo3 Educação147 Eleições10 Encíclicas36 Encontro Mundial das Famílias7 Era Digital2 Esporte5 Eucaristia129 Evangelho1102 Evangelização8 Excomunhão1 Exercícios Espirituais16 Exorcismo86 Exortação Apostólica21 Experiência de Deus51 ExpoCatólica1 Fake News3 Família743 2674 Festival Católico1 Festival Juvenil5 Fiducia supplicans11 Filme Católico95 Frases de Fé9 Frei Gilson7 Frei Roberto Pasolini3 Guerra104 Habemus Papam15 História da Igreja620 Hoje nasceu1 Homilias Papa Francisco92 Homilias Papa Leão XIV14 Homossexualismo64 Ícones31 Ideologia de Gênero103 Igreja no Brasil1684 Igreja no Mundo1175 Imagens Religiosas462 Indulgências5 Influenciadores Católicos4 Instituto Hesed1 Inteligência Artificial4 Intolerância Religiosa269 JMJ94 JMJ 202316 JMJ 20272 João Paulo II287 Jornada de Oração39 Jornada Mundial da Juventude28 Jornada Mundial das Crianças2 Jubileu 202531 Jubileu da Esperança2 Jubileu da Misericórdia93 Jubileu dos Jovens11 Lectio Divina7 Liturgia229 Liturgia Dominical257 Lives Católicas11 Livros Católicos145 Lojas Católicas3 Louvor26 Mártires341 Matrimônio51 Medicina e Saude689 Mensagens105 Mensagens Católicas372 Mensagens do Papa1510 Mensagens-Padre Marcelo Rossi2 Milagres544 Milagres Eucarísticos27 Missa Tradicional12 Missionários Digitais2 Místicos da Igreja72 Música Católica50 Nossa Senhora846 Nossa Senhora Aparecida125 Nossa Senhora Auxiliadora13 Nossa Senhora da Rosa Mística3 Nossa Senhora da Saudade1 Nossa Senhora das Dores3 Nossa Senhora das Graças20 Nossa Senhora das Lágrimas3 Nossa Senhora de Akita1 Nossa Senhora de Fátima157 Nossa Senhora de Guadalupe59 Nossa Senhora de La Salette9 Nossa Senhora de Lourdes44 Nossa Senhora de Medjugorje23 Nossa Senhora de Nazaré23 Nossa Senhora de Schoenstatt3 Nossa Senhora do Bom Parto1 Nossa Senhora do Carmo31 Nossa Senhora do Leite1 Nossa Senhora do Mel1 Nossa Senhora do Monte Serrat21 Nossa Senhora do Perpétuo Socorro3 Nossa Senhora do Rosário16 Nossa Senhora do Silêncio2 Nossa Senhora do Sorriso1 Nossa Senhora dos Anjos2 Nosso Senhor Jesus Cristo1599 Notícias284 Notícias Católicas4097 Notícias do Blog77 Novena de Natal17 Novenas165 Objetos Religiosos1 Oração1759 Oração e Jejum46 Oração Online1 Orações (Epidemias e Pestes)53 Orações-Momento de Fé1430 Orações-No Colo de Jesus14 Ordens Religiosas867 Padre Alberto Gambarini2 Padre Chrystian Shankar2 Padre Duarte Lara15 Padre Eugenio Maria1 Padre Fabio de Melo11 Padre Gabriel Vila Verde17 Padre Léo9 Padre Marcelo Rossi1483 Padre Paulo Ricardo17 Padre Reginaldo Manzotti101 Padre Robson de Oliveira25 Padre Zezinho25 Padres da Igreja1683 Paixão de Cristo1 Pandemia167 Papa355 Papa Bento XVI269 Papa Francisco2340 Papa Leão XIV102 Páscoa138 Pastorais32 Pastoral da Pessoa Idosa76 Pastoral da Saude50 Pastoral Digital1 Pastoral Rodoviária2 Patrística20 Penitência159 Pentecostes93 Perseguição aos Cristãos419 Política530 Pregações40 Presépios10 Prof. Felipe Aquino10 Profanação30 Profecias48 Purgatório17 Quaresma358 Quaresma de São Miguel Arcanjo13 Racismo25 Rádios Católicas5 RCC51 Redes Sociais402 Reflexões1 Releases14 Relíquias da Igreja217 Renúncia do Papa6 Rosário119 Rosário da Madrugada2 Rosário das Crianças9 Rosário Mundial das Mulheres2 Rosário Mundial dos Homens1 Rumo à Santidade211 Sacramentais5 Sacramentos570 Sacrilégio144 Santas640 Santíssima Trindade9 Santos1386 São José43 Sede Vacante18 Selinhos1 Semana Santa144 Servo de Deus20 Sinodalidade3 Sínodo63 Sínodo da Amazônia58 Sínodo da Sinodalidade22 Solidariedade58 Tecnologia128 Tempo Comum373 Tempo da Quaresma364 Tempo do Advento199 Tempo do Natal286 Tempo Litúrgico960 Tempo Pascal240 Teologia da Libertação2 Terço68 Terço da Divina Misericórdia19 Terço das Crianças6 Terço das Mulheres2 Terço de Jericó1 Terço dos Homens20 Testemunhos203 tiktok9 Tradição2 Tráfico Humano21 Tragédias198 Tríduo Pascal116 TV Católica30 Unidade dos Cristãos24 Vaticano1824 Venerável3 Viagens27 Viagens Apostólicas228 Vida Eterna4 Vídeos do Blog44 Vídeos no TikTok36 Violência503 Violência Sexual Infantil65 Voto Católico20
Mostrar mais

Aviso

Olá irmãs e irmãos de fé! 
Paz e Bem! Nas postagens antigas, há diversas orações do antigo programa de rádio Momento de Fé, do Padre Marcelo Rossi. 
Todas estão no Marcador: 
Orações-Momento de Fé 

Este Blog não é do Padre Marcelo Rossi.
Para que sua mensagem chegue ao padre, você terá que acessar os sites dele: 

Ladainha aos corações de Jesus e Maria

Sagrados Corações de Jesus e Maria

Ladainha dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria

Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, tende piedade de nós.
Coração de Maria, Mãe do Filho de Deus, rogai por nós.

Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo, tende piedade de nós.
Coração de Maria, obra-prima do Espírito Santo, rogai por nós.

Corações unidos no amor e na dor, salvai-nos.
Corações inflamados de caridade e misericórdia, ouvi-nos.
Corações adoráveis e compassivos, tende compaixão de nós.

Coração Sacratíssimo de Jesus, reinai em nossos corações.
Coração Imaculado de Maria, triunfai no mundo inteiro.

Jesus e Maria, fazei que nossos corações sejam semelhantes aos vossos!

✦ Santos de Devoção (orações) ✦

São Miguel Arcanjo

São Miguel Arcanjo

São Bento

São José

Nossa Senhora de Fátima

N. Sra. de Fátima

Nossa Senhora das Graças

N. Sra. das Graças

Santo Antônio

Santo Antônio

São Francisco de Assis

São Francisco

São Pio de Pietrelcina

São Pio

São Bento

São Bento

São João Paulo II

São João Paulo II

Beato Carlo Acutis

São Carlo Acutis

São Carlo Acutis

»Do prefácio de S. Ex.ª Rev.ma Card. Angelo Comastri

"Estar sempre com Jesus, este é o meu projeto de vida".
Com estas poucas palavras, Carlo Acutis esboça a distinta característica de sua breve existência: viver com Jesus, por Jesus, em Jesus».


Pedidos de Oração no Site Oficial