Homilia do Papa Francisco na Missa pela Solenidade de Corpus Christi 2020


Papa Francisco durante a Missa. Foto: Captura YouTube Vatican Media

Vaticano, 14 Jun. 20 / 11:48 am (ACI).- Neste domingo, 14 de junho, Solenidade de Corpus Christi na Itália e em outros países, o Papa Francisco celebrou a Missa na Basílica de São Pedro na qual convidou a redescobrir a adoração eucarística.

A seguir, a íntegra da homilia do Papa Francisco:

«Recorda-te de todo esse caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer» (Dt 8, 2). Recorda-te: foi com este convite de Moisés que se abriu hoje a Palavra de Deus. Pouco depois Moisés reiterava: «Não te esqueças do Senhor, teu Deus» (8, 14).

Foi-nos dada a Sagrada Escritura para vencermos o esquecimento de Deus. Como é importante tê-lo na memória, quando rezamos! Assim no-lo ensina um Salmo, que diz: «Tenho na memória os teus feitos, Senhor; lembro-me das tuas maravilhas» (77/76, 12). Incluindo as maravilhas e prodígios que o Senhor fez na nossa própria vida.

É essencial recordar o bem recebido: se o não conservamos na memória, tornamo-nos estranhos a nós mesmos, meros «passantes» pela existência; sem memória, desenraizamo-nos do terreno que nos alimenta e deixamo-nos levar como folhas pelo vento. Pelo contrário, fazer memória é amarrar-se aos laços mais fortes, sentir-se parte duma história, respirar com um povo.

A memória não é uma coisa privada, mas o caminho que nos une a Deus e aos outros. Por isso, na Bíblia, a lembrança do Senhor deve ser transmitida de geração em geração, contada de pai para filho, como se diz neste texto estupendo: «Quando, amanhã, os teus filhos te perguntarem que regras, leis e preceitos são estes que o Senhor, nosso Deus, vos impôs, dirás aos teus filhos: “Éramos escravos (…) [toda a história da escravidão] e, à nossa vista, o Senhor fez sinais e prodígios» (Dt 6, 20-22). Tu comunicarás a memória ao teu filho.

Aqui põe-se um problema: E se a corrente de transmissão das recordações se interromper? Depois, como se pode lembrar aquilo que só ouvimos, mas sem o ter experimentado? Deus sabe como isso é difícil, sabe como é frágil a nossa memória e realizou, em nosso favor, uma coisa inaudita: deixou-nos um memorial.

Não nos deixou apenas palavras, porque é fácil esquecer o que se ouve. Não nos deixou só a Escritura, porque é fácil esquecer o que se lê. Não nos deixou apenas sinais, porque se pode esquecer também o que se vê. Deu-nos um Alimento, e é difícil esquecer um sabor. Deixou-nos um Pão em que está Ele, vivo e verdadeiro, com todo o sabor do seu amor. Ao recebê-Lo, podemos dizer: «É o Senhor! Ele lembra-Se de mim».

Foi por isso que Jesus nos pediu: «Fazei isto em memória de Mim» (1 Cor 11, 24). Fazei. A Eucaristia não é simples lembrança; é um facto: é a Páscoa do Senhor, que ressuscita para nós. Na Missa, temos diante de nós a morte e a ressurreição de Jesus. Fazei isto em memória de Mim: reuni-vos e, como comunidade, como povo, como família, celebrai a Eucaristia para vos lembrardes de Mim. Não podemos passar sem ela, é o memorial de Deus. E cura a nossa memória ferida.

Cura, antes de mais nada, a nossa memória órfã. Vivemos numa época de tanta orfandade. Cura a memória órfã. Muitos têm a memória lesada por faltas de afeto e dolorosas decepções, vindas de quem deveria ter dado amor e, em vez disso, tornou órfão o coração. Gostaríamos de voltar atrás e mudar o passado, mas não se pode.

Deus, porém, pode curar estas feridas, introduzindo na nossa memória um amor maior: o d’Ele. A Eucaristia traz-nos o amor fiel do Pai, que cura a nossa orfandade. Dá-nos o amor de Jesus, que transformou um sepulcro, de ponto de chegada, em ponto de partida e da mesma maneira pode inverter as nossas vidas. Infunde-nos o amor do Espírito Santo, que consola, porque nunca nos deixa sozinhos e cura as feridas.

Com a Eucaristia, o Senhor cura também a nossa memória negativa, aquele negativismo que frequentemente se apodera do nosso coração. O Senhor cura esta memória negativa, que sempre faz vir ao de cima as coisas mal feitas e deixa-nos na cabeça a triste ideia de que não servimos para nada, que só cometemos erros, que nos fizeram «errados». Jesus vem dizer-nos que não é assim. Ele é feliz quando está na nossa intimidade e, sempre que O recebemos, lembra-nos que somos preciosos: somos os convidados esperados para o seu banquete, os comensais que Ele deseja.

E não só porque é generoso, mas porque Se enamorou verdadeiramente de nós: vê e ama a beleza e o bem que somos. O Senhor sabe que o mal e os pecados não são a nossa identidade; são doenças, infeções. E Ele vem curá-las com a Eucaristia, que contém os anticorpos para a nossa memória doente de negativismo.

Com Jesus, podemos imunizar-nos contra a tristeza. Continuaremos a ter diante dos olhos as nossas quedas, as canseiras, os problemas de casa e do trabalho, os sonhos não realizados; mas o seu peso deixará de nos esmagar, porque, na profundidade de nós mesmos, temos Jesus que nos encoraja com o seu amor. Aqui está a força da Eucaristia, que nos transforma em portadores de Deus: portadores de alegria, não de negativismo.

Nós, que vamos à Missa, podemos perguntar-nos o que levamos ao mundo: as nossas tristezas, as nossas amarguras ou a alegria do Senhor? Fazemos a Comunhão e, depois, continuamos a reclamar, a criticar e a lamentar-nos? Mas isto não melhora coisa alguma, ao passo que a alegria do Senhor muda a vida.

Enfim a Eucaristia cura a nossa memória fechada. As feridas, que conservamos dentro, não criam problemas só a nós, mas também aos outros. Tornam-nos medrosos e desconfiados: ao princípio, fechados; com o passar do tempo, cínicos e indiferentes. Levam-nos a reagir aos outros com insensibilidade e arrogância, iludindo-nos de que assim podemos controlar as situações; mas enganamo-nos!

Só o amor cura o medo pela raiz, e liberta dos fechamentos que aprisionam. É assim que faz Jesus, vindo ter connosco com mansidão, na fragilidade desarmante da Hóstia; assim faz Jesus, Pão partido para romper a carapaça dos nossos egoísmos; assim faz Jesus, que Se dá para nos dizer que só abrindo-nos é que nos libertamos dos bloqueios interiores, das paralisias do coração.

O Senhor, oferecendo-Se a nós tão simples como o pão, convida-nos também a não desperdiçar a vida, correndo atrás de mil coisas inúteis que criam dependências e deixam o vazio dentro. A Eucaristia apaga em nós a fome de coisas e acende o desejo de servir. Levanta-nos do nosso estilo cómodo e sedentário de vida, lembra-nos que não somos apenas boca a saciar, mas também as mãos d’Ele para saciar o próximo.

Agora é urgente cuidar de quem tem fome de alimento e dignidade, de quem não trabalha e tem dificuldade em seguir para diante. E fazê-lo de modo concreto, como concreto é o Pão que Jesus nos dá. É precisa uma proximidade real; são necessárias verdadeiras correntes de solidariedade. Na Eucaristia, Jesus aproxima-Se de nós: não deixemos sozinho, quem vive ao pé de nós!

Queridos irmãos e irmãs, continuemos a celebrar o Memorial que cura a nossa memória (ao dizer aqui que cura a memória, recordemo-nos que é a memória do coração), este memorial é a Missa. É o tesouro que deve ocupar o primeiro lugar na Igreja e na vida. E, ao mesmo tempo, redescubramos a adoração, que continua em nós a ação da Missa. Faz-nos bem, cura-nos por dentro. Sobretudo agora, temos verdadeiramente necessidade dela.

Fonte: ACI digital

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Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, tende piedade de nós.
Coração de Maria, Mãe do Filho de Deus, rogai por nós.

Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo, tende piedade de nós.
Coração de Maria, obra-prima do Espírito Santo, rogai por nós.

Corações unidos no amor e na dor, salvai-nos.
Corações inflamados de caridade e misericórdia, ouvi-nos.
Corações adoráveis e compassivos, tende compaixão de nós.

Coração Sacratíssimo de Jesus, reinai em nossos corações.
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