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Papa Francisco: Como se constrói a Paz? (Homilia em Sarayevo-06/06/2015)
SARAJEVO, 06Jun.15/11:54am (ACI).- Na Missa que presidiu na manhã de hoje no Estádio Koševo de Sarajevo (Bósnia-Herzegovina), diante de cerca de 60 mil participantes, o Papa Francisco alentou aos fiéis a serem ‘artesãos’ da paz e explicou que esta é um “dom de Deus”.
Bósnia-Herzegovina viveu uma violenta guerra entre 1992 e 1995, depois da dissolução da Ex-Iugoslávia. As mortes, segundo as cifras oficiais, superaram 97 mil e cerca de dois milhões de pessoas foram deslocadas por causa do conflito.
O lema da visita apostólica do Papa Francisco ao Bósnia-Herzegovina é precisamente “A paz esteja convosco”. Em sua homilia, Francisco perguntou: “Como se faz, como se constrói a paz?”. Leia na íntegra:
Bósnia-Herzegovina viveu uma violenta guerra entre 1992 e 1995, depois da dissolução da Ex-Iugoslávia. As mortes, segundo as cifras oficiais, superaram 97 mil e cerca de dois milhões de pessoas foram deslocadas por causa do conflito.
O lema da visita apostólica do Papa Francisco ao Bósnia-Herzegovina é precisamente “A paz esteja convosco”. Em sua homilia, Francisco perguntou: “Como se faz, como se constrói a paz?”. Leia na íntegra:
VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A SARAJEVO (BÓSNIA-HERZEGÓVINA)
HOMILIA DO SANTO PADRE
Estádio Koševo de Sarajevo
Sábado, 6 de Junho de 2015
Amados irmãos e irmãs!
Nas leituras bíblicas que ouvimos, ressoou várias vezes a palavra «paz». Palavra profética por excelência! Paz é o sonho de Deus, é o projecto de Deus para a humanidade, para a história, com toda a criação. E é um projecto que encontra sempre oposição por parte do homem e por parte do maligno. Também no nosso tempo, a aspiração pela paz e o compromisso de a construir colidem com o facto dos numerosos conflitos armados existentes no mundo. É uma espécie de terceira guerra mundial travada «aos pedaços»; e, no contexto da comunicação global, sente-se um clima de guerra.
Há quem queira deliberadamente criar e fomentar este clima, de modo particular aqueles que procuram o conflito entre culturas e civilizações diferentes e também quantos, para vender armas, especulam sobre as guerras. Mas a guerra significa crianças, mulheres e idosos nos campos de refugiados; significa deslocamentos forçados; significa casas, estradas, fábricas destruídas; significa sobretudo tantas vidas destroçadas. Bem o sabeis vós, que experimentastes isto mesmo precisamente aqui: quanto sofrimento, quanta destruição, quanta tribulação! Hoje, amados irmãos e irmãs, desta cidade ergue-se mais uma vez o grito do povo de Deus e de todos os homens e mulheres de boa vontade: Nunca mais a guerra!
Dentro deste clima de guerra salienta-se, como um raio de sol que atravessa as nuvens, a palavra de Jesus no Evangelho: «Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). Trata-se dum apelo sempre actual, que vale para cada geração. Jesus não diz «Felizes os pregadores de paz»: todos são capazes de a proclamar, até de maneira hipócrita ou mesmo enganadora. Não. Ele diz: «Felizes os pacificadores», isto é, aqueles que a fazem. Fazer a paz é um trabalho artesanal: requer paixão, paciência, experiência, tenacidade. Felizes são aqueles que semeiam paz com as suas acções diárias, com atitudes e gestos de serviço, de fraternidade, de diálogo, de misericórdia... Estes sim, «serão chamados filhos de Deus», porque Deus semeia paz, sempre, por todo o lado; na plenitude dos tempos, semeou no mundo o seu Filho, para que tivéssemos a paz! Fazer a paz é um trabalho que se deve realizar todos os dias, passo a passo, sem nunca nos cansarmos.
E como se faz, como se constrói a paz? Recordou-no-lo, de forma essencial, o profeta Isaías: «A paz será obra da justiça» (32, 17). A frase «opus iustitiae pax» – segundo a versão da «Vulgata» – tornou-se um lema célebre, profeticamente adoptado pelo próprio Papa Pio XII. A paz é obra da justiça. Também aqui falamos, não duma justiça declamada, teorizada, planificada, mas da justiça praticada, vivida. E o Novo Testamento ensina-nos que o pleno cumprimento da justiça é amar o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22, 39; Rom 13, 9). Quando, ajudados pela graça de Deus, seguimos este mandamento, como mudam as coisas! Porque mudamos nós! Aquela pessoa, aquele povo que eu via como inimigo, na realidade tem o meu próprio rosto, o meu próprio coração, a minha própria alma. Temos o mesmo Pai nos Céus. Então a verdadeira justiça é fazer àquela pessoa, àquele povo, o mesmo que eu queria que fosse feito a mim, ao meu povo (cf. Mt 7, 12).
São Paulo, na segunda Leitura, indicou-nos as atitudes necessárias para fazer a paz: «Revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também» (Col 3, 12-13).
Eis aqui as atitudes para ser «artesãos» de paz no dia a dia, onde quer que vivamos. Não nos iludamos, porém, de que isto dependa só de nós; cairíamos num moralismo ilusório. A paz é dom de Deus, não em sentido mágico, mas porque Ele, com o seu Espírito, pode imprimir estas atitudes nos nossos corações e na nossa carne, e fazer de nós verdadeiros instrumentos da sua paz. E, lendo em profundidade, o Apóstolo diz que a paz é dom de Deus, porque é fruto da sua reconciliação connosco. Somente se o homem se deixar reconciliar com Deus, é que pode tornar-se um obreiro de paz.
Amados irmãos e irmãs, hoje peçamos juntos ao Senhor, por intercessão da Virgem Maria, a graça de ter um coração simples, a graça da paciência, a graça de lutar e trabalhar pela justiça, de ser misericordiosos, de trabalhar pela paz, de semear a paz e não guerra e discórdia. Este é o caminho que torna felizes, que torna bem-aventurados.
Fonte:
https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20150606_omelia-sarajevo.html
Há quem queira deliberadamente criar e fomentar este clima, de modo particular aqueles que procuram o conflito entre culturas e civilizações diferentes e também quantos, para vender armas, especulam sobre as guerras. Mas a guerra significa crianças, mulheres e idosos nos campos de refugiados; significa deslocamentos forçados; significa casas, estradas, fábricas destruídas; significa sobretudo tantas vidas destroçadas. Bem o sabeis vós, que experimentastes isto mesmo precisamente aqui: quanto sofrimento, quanta destruição, quanta tribulação! Hoje, amados irmãos e irmãs, desta cidade ergue-se mais uma vez o grito do povo de Deus e de todos os homens e mulheres de boa vontade: Nunca mais a guerra!
Dentro deste clima de guerra salienta-se, como um raio de sol que atravessa as nuvens, a palavra de Jesus no Evangelho: «Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). Trata-se dum apelo sempre actual, que vale para cada geração. Jesus não diz «Felizes os pregadores de paz»: todos são capazes de a proclamar, até de maneira hipócrita ou mesmo enganadora. Não. Ele diz: «Felizes os pacificadores», isto é, aqueles que a fazem. Fazer a paz é um trabalho artesanal: requer paixão, paciência, experiência, tenacidade. Felizes são aqueles que semeiam paz com as suas acções diárias, com atitudes e gestos de serviço, de fraternidade, de diálogo, de misericórdia... Estes sim, «serão chamados filhos de Deus», porque Deus semeia paz, sempre, por todo o lado; na plenitude dos tempos, semeou no mundo o seu Filho, para que tivéssemos a paz! Fazer a paz é um trabalho que se deve realizar todos os dias, passo a passo, sem nunca nos cansarmos.
E como se faz, como se constrói a paz? Recordou-no-lo, de forma essencial, o profeta Isaías: «A paz será obra da justiça» (32, 17). A frase «opus iustitiae pax» – segundo a versão da «Vulgata» – tornou-se um lema célebre, profeticamente adoptado pelo próprio Papa Pio XII. A paz é obra da justiça. Também aqui falamos, não duma justiça declamada, teorizada, planificada, mas da justiça praticada, vivida. E o Novo Testamento ensina-nos que o pleno cumprimento da justiça é amar o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22, 39; Rom 13, 9). Quando, ajudados pela graça de Deus, seguimos este mandamento, como mudam as coisas! Porque mudamos nós! Aquela pessoa, aquele povo que eu via como inimigo, na realidade tem o meu próprio rosto, o meu próprio coração, a minha própria alma. Temos o mesmo Pai nos Céus. Então a verdadeira justiça é fazer àquela pessoa, àquele povo, o mesmo que eu queria que fosse feito a mim, ao meu povo (cf. Mt 7, 12).
São Paulo, na segunda Leitura, indicou-nos as atitudes necessárias para fazer a paz: «Revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também» (Col 3, 12-13).
Eis aqui as atitudes para ser «artesãos» de paz no dia a dia, onde quer que vivamos. Não nos iludamos, porém, de que isto dependa só de nós; cairíamos num moralismo ilusório. A paz é dom de Deus, não em sentido mágico, mas porque Ele, com o seu Espírito, pode imprimir estas atitudes nos nossos corações e na nossa carne, e fazer de nós verdadeiros instrumentos da sua paz. E, lendo em profundidade, o Apóstolo diz que a paz é dom de Deus, porque é fruto da sua reconciliação connosco. Somente se o homem se deixar reconciliar com Deus, é que pode tornar-se um obreiro de paz.
Amados irmãos e irmãs, hoje peçamos juntos ao Senhor, por intercessão da Virgem Maria, a graça de ter um coração simples, a graça da paciência, a graça de lutar e trabalhar pela justiça, de ser misericordiosos, de trabalhar pela paz, de semear a paz e não guerra e discórdia. Este é o caminho que torna felizes, que torna bem-aventurados.
Fonte:
https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2015/documents/papa-francesco_20150606_omelia-sarajevo.html
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